Outubro
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quarta, 23 de outubro de 2024

No mês de outubro: a) começa a colheita do trigo plantado cedo; b) festa das crianças; c) celebração de N. S. Aparecida; d) festa dos alemães, a Oktoberfest; e) o dia do professor; f) neste ano, a realização das eleições municipais; g) e, sem dúvida, o maior acontecimento de todos, em Roma, a realização do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodal idade.


O trigo para o pão nosso de cada dia está lourando nas coxilhas e promete boa safra. 


Aparecida recebe milhares de peregrinos que caminham movidos pela fé. 


A festa dos alemães, iniciada em 1810, em Munique, não importa o tempo, é sempre barulhenta.  


Dia das crianças é sempre medido pelo volume de vendas. A criança é estimulada a ser devoradora de brinquedos, dos quais, provavelmente, nenhuma recordação levará pela vida afora. 


O professor já não passa de acendedor ou apagador de lampiões. Seu tempo histórico vai sumindo como o pavio do lampião. Em seu lugar, entroniza-se, com garbo e louvor, a Inteligência Artificial com toda a parafernália eletrônica. Depois do esvaziamento das igrejas, ocorre o esvaziamento das escolas. Vaidoso, o aluno virtual diz para si mesmo “eu sou o professor de mim mesmo”. Esta síndrome de uma pedagogia esquizofrênica já se fazia sentir nos Estados Unidos, na década de cinquenta, quando os alunos se despediam dos professores, ao final do semestre, dizendo “adeus professor, velho tolo”.


As eleições já não asseguram mais vitalidade à anêmica democracia. Torna-se rito vazio para quem vota e oportunidade de aumentar o poder pessoal para quem é votado. Nos territórios interioranos ainda se encontra práticas de escolha marcadas pela confiança entre eleitores e eleitos. Nos grandes centros, predomina o teatro da tragédia. Faz lembrar o profeta Elias no Monte Carmelo disputando com os profetas de Baal quem adorava o deus verdadeiro. Furioso diante de tanta maldade e mentira, Elias não titubeou em passar pelo fio da espada os 480 falsos profetas. A mentira em profusão, a violência verbal e física, a falta de decoro e respeito, o vazio intelectual, a mediocridade dos debates, e muito mais, serviram para tornar a política ainda mais indigesta para grande parte da população. A abstenção elevada sugere que cresce o sentimento de aversão à política e aos profissionais dela. Votar já não significa mais cultivar a cidadania esclarecida para os eleitores. Em muita gente, firma-se a convicção de que se deveria fazer, com muitos políticos, o que Elias fez no Monte Carmelo com os arautos da mentira.


O Sínodo dos Bispos sobre a Sinodal idade está gastando todo o mês de outubro para sinalizar mudanças que a Igreja católica precisa fazer, com risco de não fazendo, poderá tornar-se instituição do passado, sem carisma para evangelizar. 400 membros qualificados e 100 convidados, mulheres incluídas, estudam e apontam caminhos que vitalizem a Igreja, expurgando da velha estrutura de poder, aquilo que foi se incrustando ao longo do tempo como coisas do “reino deste mundo”. Esta é a terceira fase do Sínodo. A primeira aconteceu, em 2021, como consulta a todo o Povo de Deus sobre a presença do laicato na estrutura da Igreja. A segunda ocorreu em 2023, como tempo de avaliar e refletir sore as contribuições colhidas em todas as comunidades eclesiais.


Segundo o teólogo catarinense, perito do Sínodo, padre Agenor Brighenti, “o que diz respeito a todos deve ser discutido e decidido por todos”. Padre Agenor acaba de publicar o livro Sinodal idade, o jeito de ser igreja, comunhão e participação. No dia 15/10/24, o livro será apresentado aos bispos sinodais no Vaticano.


O Sínodo regurgita no interior de toda a Igreja como momento necessário de revitalização de velhas práticas e costumes que não dizem mais nada para os católicos. Clarinada de esperança e de chamamento à conversão dos que desejam uma igreja autorreferenciada, saudosista do tempo em que as catedrais enchiam e as quermesses rendiam bom resultado financeiro.  Papa Francisco concita a todos fazerem movimento inverso. Ao invés de esperar o povo ir às capelas, são os católicos que devem sair de dentro das igrejas e ir ao encontro do povo que abandonou suas crenças de infância.


A política deixou de ser a arte do bem comum. A Hierarquia deixou de ser o poder de servir. O poder como poder contaminou tanto a política como a hierarquia. Ambos os casos precisam de sopro do Espírito Santo para purificar esta moribunda civilização que se acostumou a ser escrava da pecúnia e da vaidade.
 

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