O mês de julho é um pouco esquecido no que se refere a comemoração de datas festivas (efemérides), já que ocorrem as tradicionais férias escolares de inverno aqui no Brasil. No entanto elas existem e são as mais variadas. Aqui para coluna, resolvi decantar um dos meus poetas maiores, Mário Quintana, nascido em Alegrete (RS) em um 30 de julho no ano de 1906. Apesar de ter recebido inúmeras honrarias – citando algumas -, como o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), UNICAMP e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); os prêmios Jabuti e Machado de Assis; além do título de Cidadão Honorário de Porto Alegre, o poeta era de uma simplicidade e bom humor, assim como seus textos. Publicou o primeiro livro aos 30 anos, a “Rua dos Cataventos”, não parando mais de produzir até quando nos deixou, em 1994.
Na literatura, normalmente vinculado a segunda geração modernista, seu estilo livre se traduzia na estrutura de seus poemas, oras com versos livres, oras com versos regulares, primando pela métrica e rima. Manuel Bandeira fez uma homenagem à Quintana, em 1966, em uma sessão da Academia Brasileira de Letras, tendo cunhado o termo “Quintanares” ao se referir ao “estilo Quintana” de escrever. Bandeira fez uma verdadeira ode ao poeta em seus versos: “ Meu Quintana, os teus cantares, não são Quintana, cantares: são Quintana, quintanares.” Quintana sorvia a vida aos pouquinhos, para não perder nenhum detalhe, e isso é percebido em seus poemas, como “O Mapa”- meu preferido -, talvez porque fale de Porto Alegre, e me evoque um misto de amor e nostalgia. Sua história vive na “Casa de Cultura Mário Quintana”, espaço onde funcionou o antigo hotel Majestic e que hospedou o poeta de 1968 a 1980. Que a leveza de Quintana seja inspiração para iniciarmos o mês de julho mais leves. Sem o pesos que a vida nos incita a carregar. Que possamos flertar com as cidades em que moramos, tal qual namoro a minha que Quintana decanta tão bem. Com vocês, “O Mapa”:
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(E nem que fosse o meu corpo!)
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Ha tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Ha tanta moca bonita
Nas ruas que não andei
(E ha uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...).
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso.
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
Bons Ventos! Namastê.
