Das coisas que eu sei
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quinta, 15 de maio de 2025

Nossa ignorância frente ao mundo depõe nossas fraquezas diante do emaranhado de coisas que não sabemos. Mas, quem disse que deveríamos saber sobre tudo? Alguém por acaso consegue deter o conhecimento sobre o tanto de coisas que nos cercam? Creio que não, embora existam os “achólogos de plantão” sempre dispostos a responder questões suas, dos outros e da humanidade. Distante desses tipos pitorescos de gênios do oráculo, no fundo sabemos que muitas questões somente nós poderemos responder, assim como outras jamais terão argumentação. O ser humano é por si contestador e já nasce assuntando tudo a sua volta: “Esses são meus pais?” “Essa é a vida?” “O que estou fazendo aqui?” E assim ocorre sucessivamente no curso da vida, perguntas e mais perguntas em uma enquete que dá inveja aos mais aficionados pesquisadores.

As inquietações não deveriam nos fazer sofrer e nem frustrar pela falta de respostas, já que a vida seria deveras enfadonha se tudo estivesse resolvido e no seu lugar. Ah se não fosse o desassossego, o conformismo teria nos estagnado ao tempo das cavernas, pois foi a inquietação em saber, a grande responsável pela maioria das invenções que temos no mundo. A célebre frase “Só sei que nada sei”, atribuída a Sócrates, singulariza nossa humildade em admitir que não somos “donos da verdade”, e que estamos sempre aprendendo nesta vida na medida em que “A dúvida é o princípio da sabedoria” (Aristóteles). Vivemos em constantes descobertas que vão de um insight de uma teoria a uma nova receita de bolo e é essa movimentação no estado das coisas que nos faz crescer como pessoas.

Sobre os saberes, não reduza como fonte de aprendizado os bancos de escola e a academia, pois tem coisas que a gente só aprende com nossos parceiros de caminhada. Não desdenhe em aprender com o mendigo que fenece pelas ruas, pois ele é doutor em resiliência. Assim, como o colono que vive no mato, na casa simples e que lhe dará o melhor que dispuser em casa, já que é mestre em humildade. A referência muitas vezes está ao lado, nos conselhos de uma avó, mas é claro que procurar um coach para nos dizer como viver nossa própria vida talvez seja mais nobre e ainda certifica! Nossos currículos promovem nossas expertises acadêmicas, profissionais, em idiomas, mas não traduzem nossos outros saberes, aqueles que nos distinguem da massa e nos fazem ser únicos. E se houvesse nos currículos, um setor que informasse nossos outros saberes? Qual a validação de falar que sabemos cozinhar comida mediterrânea (a não ser que se esteja candidato a uma vaga em restaurante), ou que fazemos bons planos de viagens (se a vaga não é para uma agência de turismo), que somos bons ouvintes, conselheiros e que sabemos “tirar leite de pedra”? São saberes às vezes inusitados, mas que fazem toda diferença ao imprimir nossa personalidade. Na lição das coisas que eu sei e das que posso aprender, somos eternos aprendizes, pois “O saber a gente aprende com os mestres e com os livros. A sabedoria, se aprende e? com a vida e com os humildes.” (Cora Coralina).

 

Bons Ventos! Namastê.

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