O engajamento em causas sociais por conta do voluntariado nas ONGs, Coletivos e outras entidades que visam o interesse coletivo sem dúvida é notável, assim como o sentimento de solidariedade frente as tragédias e desastres naturais o que podemos designar como altruísmo. Ser prestativo, gentil, educado e atencioso são qualidades altruístas e respondem por indivíduos que tiveram desde cedo uma formação que lhes levava a sentir a necessidade alheia e a ser generoso. Certamente foram crianças que não se engalfinhavam por conta de um brinquedo e que eram estimuladas a compartilhar (sim, porque parte do que somos é fruto de nossa criação) e, quando adultos, seguiram os preceitos de pensar no coletivo, às vezes, em detrimento de suas próprias necessidades.
As características de personalidade do altruísta de acordo com a obra de Palmer “O Eneagrama – compreendendo-se a si mesmo e aos outros em sua vida”, em seu lado positivo indicam indivíduos: empáticos, carismáticos, voluntariosos, envolventes, atenciosos e hábeis nas relações. Contudo, pessoas com esse perfil em seu lado negativo, podem se tornarem invasivas na tentativa de solucionar coisas que não lhes dizem respeito. A ideia de altruísmo foi cunhada no século XIX pelo filósofo positivista Auguste Comte – considerado o fundador da Sociologia -, que se ocupou de categorizar esse comportamento em apego (os laços afetivos entre os indivíduos), veneração (a admiração que as pessoas mais fracas têm em relação às mais fortes ou aos mais velhos) e bondade (o sentimento dos mais fortes ou mais velhos em relação aos mais fracos ou mais novos) conforme parafraseia o psicólogo David Myers, no livro “Psicologia Social”. A notabilidade em se preocupar com os problemas sociais que impactam comunidades e cidadãos em situação de vulnerabilidade sem dúvida nos faz pessoas mais humanizadas e sensíveis as causas alheias, o problema é quando só conseguimos exercer o altruísmo com estranhos, esquecendo ou ignorando quem está ao lado. Pequenos gestos entre pessoas próximas (amigos, família, colegas) tem a mesma repercussão no sentido colaborativo do que fazemos com grandes causas, que pontuam na mídia e comovem a opinião pública. Antes de mais nada é preciso pensar o que nos move em ajudar. Se é a ajuda pela ajuda ou se existe um lado narciso pedindo holofotes. Todos precisam de ajuda em maior ou menor proporção. Do mendigo ao refugiado. Da criança órfão, o velho no asilo ao amigo que passa por uma crise existencial. Desdenhar da necessidade alheia ou oferecer ajuda tendo a cobrança como moeda de troca é algo sórdido e vergonhoso, embora cada vez mais se avolumem comportamentos desse tipo, “pseudo-altruístas”.
Os pseudo-altruístas gostam de demonstrar poder desvelado em um quase “beija mão”. Apreciam que seus nomes fiquem gravados para eternidade em locais que prestaram ajuda e, obviamente adoram sair na mídia. Costumam criar uma relação de dependência com aqueles que ajudam, seja financeira ou psicológica, deixando claro a todo momento a tal “dívida de gratidão”. Deixam nas entrelinhas o peso da tal dívida obrigando os devedores a serem escravos de suas vontades e caprichos. A humilhação e a submissão fazem parte desse cenário que desfavore inda mais quem está necessitado. E a ingratidão, o que dizer? Daquele que esquece o tanto que o outro lhe ajudou com uma virada de costas. A memória pode ser curta, mas a consciência sempre nos acomete mais cedo ou mais tarde.
Bons Ventos! Namastê.