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Leite
Produtores da região são impactados pela crise financeira da cooperativa Piá
Famílias de Taquaruçu do Sul, Palmitinho, Seberi e Erval Seco ainda não receberam o pagamento pela sua produção
Por: Wagner Stan
Publicado em: segunda, 29 de maio de 2023 às 16:11h
Atualizado em: segunda, 29 de maio de 2023 às 16:15h

“Já imaginou trabalhar o mês inteiro e não receber?”. Esse é o questionamento do produtor Daniel Menezes, de Taquaruçu do Sul, acerca do problema que ele e um grupo de famílias da região estão enfrentando nos últimos meses. Produtores de Taquaruçu do Sul, Palmitinho, Seberi e Erval Seco estão há mais de um mês e meio sem receber o pagamento referente ao leite produzido e entregue no período. Isso se deve à crise financeira em que a cooperativa Piá, de Nova Petrópolis, vem enfrentando nos últimos anos e que se agravou em 2023. 

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Entenda a crise 
A cooperativa Piá, fundada em 1967, conta com diversos ramos de produção e comercialização de produtos que fortaleceram a marca nestas mais de cinco décadas de existência. A cooperativa conta, até então, com unidades de supermercados e agropecuárias, unidade de processamento de leite, centros de distribuição de produtos de marca própria, entre outros. 
A falta de gestão e transparência é o que tem sido apontado como um dos principais fatores que levaram a cooperativa a sua má fase. Investimentos em novos equipamentos, e expansão dos negócios foram realizados com orçamento fixado em R$ 28 milhões, à época, mas que já passaram dos R$ 100 milhões, de acordo com matéria do Jornal do Comércio. Em Assembleia Geral Extraordinária, a cooperativa relatou uma dívida bancária de R$ 74 milhões, que se junta a demais dívidas. 
Na quarta-feira, 17 de maio, diretores e conselheiros da cooperativa anunciaram sua renúncia aos cargos, promovendo mais incerteza e medo por parte dos fornecedores e produtores. Em entrevista à jornalista Giane Guerra, na Rádio Gaúcha, o presidente do Conselho Fiscal da cooperativa, Gerson Haas, destacou que atualmente um presidente interino está à frente da Piá, com o auxílio de uma consultoria financeira, até a realização de uma Assembleia Extraordinária, marcada para o dia 19 de junho, que pretende eleger a nova equipe diretiva da cooperativa. 
À jornalista, Haas disse que a cooperativa irá sair da crise. “A marca é de afeto muito grande para todo o Estado. Já há contatos fortes com instituições bancárias e fornecedores”, destaca. Uma das estratégias em estudo pela cooperativa é a venda de ativos, como apartamentos e prédios da marca, ou ainda, supermercados e agropecuárias. 

Angústia e preocupação em manter a atividade 
Há cerca de sete meses, a família de Daniel Menezes começou a ouvir rumores sobre os problemas econômicos da cooperativa, envolvendo a possibilidade até de uma falência da Piá. “O que até então os funcionários e técnicos passavam para nós é que estava tudo 100%, que não era para se preocupar, que era fake news, que era para ficar sossegado”, disse. Além disso, de acordo com o produtor, um conselheiro veio à região para conversar com os produtores, confirmando a existência da dívida, mas demonstrando os bens da empresa a fim de tranquilizá-los, para que ficassem despreocupados. 
Segundo Menezes, a cooperativa realizava a coleta de leite a cada dois dias, totalizando 15 entregas por mês, com o pagamento sendo realizado no dia 15 de cada mês. No início de maio é que os problemas começaram. A cooperativa realizou a coleta de todo mês de abril, e de maio até o dia 15, e não realizou o pagamento referente a esse período de tempo. Todos os processos foram realizados pela empresa, como o faturamento das notas, mas não efetuado o pagamento. 
Dois dias após a data do que deveria ser efetuado o pagamento, foi realizado um comunicado aos produtores. No documento a diretoria afirma que a atual contexto de dificuldades é resultado de crise e instabilidade da economia nacional e do mercado de laticínios em especial. Afirmam também que a operação chegou no limite e encontra-se totalmente sem caixa, porém com atenção especial para os débitos para uma breve solução, que envolve captação de investimentos, venda de ativos, profissionalização e melhorias de gestão, entre outras ações. 
Confira o documento na íntegra, na matéria publicada no site.

“Eles não avisaram nem os próprios funcionários. A gente mandava mensagem para quem a gente tinha conhecimento, os técnicos, e eles estavam mais perdidos que nós”. 

Grupo dos produtores 
Após constatar que o pagamento não havia sido realizado, Menezes deu início a cobrança judicial. Em seguida reuniu os produtores de Taquaruçu do Sul, Seberi, Palmitinho, Erval Seco e Vista Gaúcha, que também relataram não ter recebido seus pagamentos e que tem na pecuária de leite sua maior fonte de renda, para analisar a situação e ver quais medidas podem ser tomadas, pois é grande a preocupação e angústia. A maioria dos produtores, estão com as despesas do último mês pendentes, pagando juros pelas contas pagas em atraso em decorrência do não recebimento por parte da cooperativa Piá. Pendência de sustento, financiamentos de propriedades junto a instituições de crédito, entre outras dívidas, estão atrasadas. “Dois produtores choraram! Fui conversar com eles, e começaram a chorar... Tem produtor que está se desfazendo de bens, vendendo vaca; a soja. Em função desta situação muitos que estavam aguardando uma melhora no preço, agora precisam se desfazer dos bens recebendo um valor baixo”, frisa o produtor.

Troca de empresa
Após os problemas enfrentados, os produtores da região tiveram que buscar rapidamente outra parceria para entregar a produção, pois o grupo acredita que não há mais condições para manter contato comercial com a cooperativa de Nova Petrópolis. “Aqui na região ninguém mais vende leite para eles”, desabafa Menezes. 

Fonte: Jornal O Alto Uruguai