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Economia
Grande safra brasileira e pressão internacional impactam no preço da soja
Cotações seguem pressionadas para baixo em razão das boas condições para plantio nos EUA e pelos bons números desta última safra na América do Sul, principalmente, no Brasil
Por: Wagner Stan
Publicado em: segunda, 22 de maio de 2023 às 11:46h
Atualizado em: segunda, 22 de maio de 2023 às 11:52h

Algo que tem impactado e preocupado os produtores agrícolas da região, e toda a cadeia produtiva nacional, é a redução considerável do preço de comercialização da soja. De acordo com o gerente-regional da Emater-RS/Ascar, Luciano Schwerz, a média de preço da saca de soja, hoje na região, é de R$ 126, algo que no início de 2022 chegou a ser comercializada a R$ 204. 

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Um dos fatores que tem impactado essa queda nos preços do grão brasileiro é a redução da demanda pelo principal comprador. A China tem reduzido o uso do farelo de soja na produção de ração, comprando menos do Brasil, impactando negativamente os produtores brasileiros, que neste ano, tiveram a maior safra do grão da história. 

– Sempre que houver uma ampliação da oferta em níveis proporcionalmente superiores à ampliação da demanda, ou quando houver pressão para redução na taxa de câmbio, os preços pagos aos produtores rurais passam a ser pressionados para baixo – destaca também o economista e chefe do Departamento de Ciências Econômicas da UFSM de Palmeira das Missões, professor-doutor Nilson Luiz Costa. 

Pressões internacionais e movimentações financeiras
Além da oferta e procura, outros pontos nivelam o preço pago aos produtores. De acordo com o economista Nilson Costa, os principais fatores que definem o preço da soja são as cotações futuras em Chicago: a bolsa de valores mais antiga do mundo que nivela os preços internacionais de compra e venda; a taxa de câmbio, que é a relação entre moedas de dois países diferentes resultando em seu preço em comparação à outra; e o prêmio de exportação, relação do preço aplicado na praça (na região) com o preço internacional, podendo ser positivo ou negativo, que também tem influência da taxa cambial. 
– O mercado da soja é muito dinâmico, pois tanto a taxa de câmbio quanto as cotações da soja em Chicago são voláteis. Neste momento, em Chicago, as cotações seguem pressionadas para baixo em razão das boas condições para plantio nos EUA e pelos bons números desta última safra na América do Sul, principalmente no Brasil.
Do mesmo modo, os níveis elevados na taxa básica de juros (Selic) e as boas expectativas de aprovação do Projeto de Lei que disciplina os gastos públicos e o equilíbrio fiscal no Brasil pressionam a taxa de câmbio para baixo. Portanto, a olhar pelas cotações internacionais e pela taxa de câmbio, neste momento, não existe uma tendência de elevação no preço pago ao produtor. Por outro lado, existe um movimento característico no comportamento de venda de soja, pelo produtor rural, que é faturar grande parte da produção para pagar as dívidas de custeio, entre os meses de abril e maio. Em função disso, nestes meses, existe uma pressão de oferta que naturalmente dificulta a manutenção de cotações em níveis mais elevados – destaca o economista.  

Alta da taxa Selic dificulta o bom rendimento do produtor 
Ainda, segundo o economista, as condições macroeconômicas, principalmente a alta taxa de juros Selic atual impacta o produtor rural. “Isto impacta o produtor de duas formas: a) pressiona a taxa de câmbio para baixo, o que resulta em pressão baixista no preço da soja e, b) amplia os juros do crédito rural. Portanto, é um momento para pensar com muita cautela e não se arriscar muito, pois a volatilidade pode resultar em prejuízos”, finaliza Costa. 

Safra na região 
De acordo com o gerente-regional da Emater/RS-Ascar, Luciano Schwerz, a safra da soja na região está quase concluída, com cerca de 95% da colheita já finalizada, faltando apenas pequenas áreas como as de safrinha. Os números esperados no início da safra eram de 3.476 kg/hectare, nos 42 municípios da área de abrangência do escritório regional, e se finaliza com uma perspectiva de 2.235 kg/hectare, uma redução de cerca de 35,7% na produtividade. 

A área de soja cultivada na região foi de 423 mil hectares, e a quebra de cerca de 20 sacos/hectare foi mais intensa em algumas localidades devido à estiagem. De maneira geral, no Estado, a expectativa é de uma quebra de produtividade de 40%, na região, se tem um resultado um pouco melhor do que no RS devido às produções próximas à divisa com SC, onde as chuvas retornaram em janeiro. 

Ainda, de acordo com Luciano, a produção regional tem um impacto no preço de venda devido ao contexto nacional, de alta oferta, e do baixo preço de prêmio nos portos. A perspectiva para os próximos dias e meses é de estabilidade, e que deve depender também da safrinha de milho, que vem apresentando um bom resultado no país. 

– Esperamos que o preço se mantenha e se recupere na medida do possível, porque o agricultor da nossa região, além de uma baixa produtividade, está tendo preços baixos frente à safra que teve maior custo dos últimos anos, ou talvez até da história do plantio de soja, onde nós compramos fertilizante, glifosato, produtos que hoje estão com um preço de até 60%, 70%, abaixo do que quando o agricultor fez a implantação na lavoura. Alguns produtos que estavam sendo comercializados a R$ 100, hoje podem ser adquiridos por R$ 30. Fertilizantes, tínhamos alguns a R$ 280, R$ 300, hoje, você compra por R$ 150. Então tudo isso gerou um custo alto de produção, agora, o preço baixo, baixa produtividade, e a margem de lucro dos agricultores desaparece – finaliza Luciano. 

Fonte: Jornal O Alto Uruguai
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