Publicidade
Saúde
Direção do HDP alerta que UTI pode ser fechada por falta de recursos
Escassez de repasses e “explosão” de gastos em função dos tratamentos contra a Covid-19 inviabilizam funcionamento da Unidade de Terapia Intensiva, dizem os diretores
Por: João Victor Gobbi Cassol
Publicado em: segunda, 03 de maio de 2021 às 13:53h
Atualizado em: segunda, 03 de maio de 2021 às 13:55h

Referência estadual para o tratamento de pacientes com Covid-19 e resultado de uma mobilização feita ao longo de anos pela comunidade regional, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), do Hospital Divina Providência (HDP), de Frederico Westphalen, tem seu futuro incerto. Pouco mais de um ano depois de ter sido aberta, período no qual atendeu centenas de pessoas que necessitavam de cuidados intensivos, a UTI pode ser fechada dentro de semanas.
O “sinal de emergência” foi emitido pelo presidente do HDP, Jaime Vitalli. À reportagem do AU, o administrador afirmou que o balanço financeiro garante o funcionamento da UTI por um “curto espaço de tempo”. Segundo Vitalli, o local esteve na iminência de ser paralisado ainda em abril, quando faltou dinheiro para o pagamento dos profissionais que atuam na unidade.

Agravamento da pandemia pesou nos custos
Inaugurada em janeiro de 2020, a UTI do HDP só passou a receber recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) em janeiro deste ano, quando completou um ano de funcionamento e se tornou apta a ser alimentada por esses repasses. Nesse período, a Prefeitura de Frederico Westphalen fez repasses para contribuir na manutenção do bloco, mas o balanço financeiro já era negativo. 

A partir de janeiro, com os repasses do SUS, a Prefeitura de FW parou de fazer destinações – situação que havia sido acordada entre as partes, no início do ano passado. No entanto, os R$ 93 mil que o SUS mensalmente envia para a manutenção da UTI se mostraram insuficientes diante do agravamento da pandemia. Nos dois primeiros meses desse ano, as despesas ultrapassaram em 550% o valor do repasse. O resultado disso é a possibilidade real da UTI interromper parte ou todas as atividades nos próximos dias. “Infelizmente, se não tivermos repasses nos próximos 20 dias, todo o trabalho de vitória da comunidade será perdido. Teremos que definir, junto com o Poder Público, serviços que serão paralisados”, afirma Vitalli.

Em março, mês no qual a UTI foi destinada integralmente para casos de Covid-19, os custos atingiram patamares ainda mais elevados. O déficit ainda está sendo apurado, mas Vitalli adianta que a diferença entre os repasses e os gastos foi ainda maior do que em janeiro e fevereiro. Segundo a direção da casa de saúde, o pagamento de fornecedores foi postergado, mas a capacidade de renegociação junto a eles se esgotou. 

Repasses “avulsos” ajudam momentaneamente
O ponto central da dificuldade financeira em manter a UTI funcionando é a regularidade dos repasses. Nas últimas semanas, o HDP recebeu recursos adicionais, enviados pela Câmara de Vereadores de FW, Governo do Estado, Assembleia Legislativa, Tribunal de Justiça, Ministério Público, Defensoria Pública e Tribunal de Contas. Somados, os valores doados resultam em cerca de R$ 640 mil. O valor foi esgotado ontem, 30 de abril, com a conclusão de pagamentos de funcionários. De acordo com Vitalli, a “rombo”, além de poder significar o fechamento da UTI, põe em risco todo o HDP.

– Precisamos que os recursos cheguem ao HDP para que possamos reestabelecer a saúde das pessoas. Nossos esforços têm se dado de todas as formas a manter o HDP e a UTI em funcionamento, inclusive mais de uma vez já clamamos à comunidade para nos ajudar financeiramente. Porém, os custos são extremamente altos e nosso temor é inviabilizar o HDP com os custos da UTI – apela o presidente.

Dos 401 atendimentos feitos pela UTI desde a abertura, o HDP estima uma taxa de 63% de sobrevida dos pacientes atendidos. Segundo a direção, mais de 50% do total de atendidos é de Frederico Westphalen. A situação é vista com preocupação pelo diretor-técnico do HDP, Cristiano Giovenardi. Ele afirma que a UTI é a maior conquista recente da história da região no campo da saúde e que, sem ela, mais pessoas teriam morrido em função da Covid-19.

– Posso afirmar, sem viés sensacionalista, que a ausência da UTI em nosso município teria elevado consideravelmente o número de óbitos pela Covid-19, além de aumentar a ansiedade e desespero dos familiares e pacientes. Mas, infelizmente, prover saúde de qualidade, no Brasil, requer custos elevados e muito suor, além de torcer para que a União, Estado e município estejam alinhados. Se não for assim, o belo discurso de que a saúde é prioridade, perde-se ao vento. Infelizmente, após 16 meses de vida, nossa UTI, ironicamente, está pedindo ajuda – relata.

Prefeitura de FW reforça apoio ao HDP
Ao AU, a Prefeitura de FW comentou a situação e afirmou ser parceira do HDP na busca por recursos e pela manutenção da UTI. 
O prefeito de FW, José Alberto Panosso (MDB), se manifestou pessoalmente sobre o fato, destacando que a construção da UTI resultou de um trabalho comunitário. “Eu não acredito no fechamento da UTI, por tudo o que foi feito para sua construção. A comunidade trabalhou junto, unida, estivemos juntos nesse grande esforço coletivo para obter essa conquista e assim seguimos”, declarou Panosso.

– A administração municipal sempre esteve ao lado do HDP, auxiliando na manutenção e ampliação dos serviços para atendimento à comunidade. Ao longo de 2020, foram repassados R$ 1,2 milhão para a UTI do hospital, junto a mais R$ 200 mil encaminhados em 2019, além de, até hoje, mobilizarmos a vinda de recursos junto a deputados estaduais. Com o apoio de lideranças do município, obtivemos a garantia de que serão liberados R$ 550 mil para o HDP nas próximas semanas – escreveu a administração, em nota.

Ainda de acordo com o Executivo municipal, desde 2017, com finalidade para todas as áreas, a prefeitura destinou R$ 13 milhões em repasses para o HDP, e articulou a liberação de R$ 7 milhões em emendas parlamentares. No mesmo período, segundo a prefeitura, foram enviados outros R$ 36 milhões de recursos do SUS. No total, o aporte de recursos, segundo informou o município, aproxima-se de R$ 57 milhões. 

Publicidade

 

Fonte: João Victor Gobbi Cassol
Vitrine do AU