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Festival
“Cada troféu é como um filho”
A trajetória de Júlio César da Rosa, artesão do Carijo da Canção Gaúcha
Por: Márcia Sarmento
Publicado em: quarta, 21 de maio de 2025 às 09:42h
Atualizado em: quarta, 21 de maio de 2025 às 09:45h

A madeira carrega histórias. Em Sapucaia do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre, um artista de 70 anos transforma troncos reaproveitados em símbolos de vitória, cultura e identidade. Júlio César da Rosa, conhecido como “Pé no Chão”, já residiu em Palmeira das Missões, é o responsável por esculpir os troféus do Carijo da Canção Gaúcha desde a primeira edição, ainda nos anos 1980.
A conexão com o festival começou por meio do convite de um amigo. Juntos, buscaram inspiração com o professor Mozart Pereira Soares, que contou a história do Batalhão Pé no Chão, formado durante a Revolução de 1935. Da memória afetiva e das fotos antigas, nasceu o primeiro troféu. A peça ganhou nome e forma e acabou por batizar o ateliê do escultor: Artesanato Pé no Chão.

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Desde então, Júlio nunca deixou de participar do Carijo. Trabalha, principalmente, com madeiras recicladas, como cedro rosa, cedidas pela comunidade ou pela prefeitura local. Árvores caídas ou removidas por necessidade urbana ganham novo sentido nas mãos do artesão.
Com décadas de dedicação à arte e ao tradicionalismo, Júlio já produziu troféus para diversos festivais, inclusive fora do Brasil. Mas nenhum tem o peso simbólico e afetivo do Carijo. “Não é só um troféu para mim. É como se eu tivesse doando um filho a cada ano”, resume. Apesar da ajuda eventual da família, ninguém seguiu seu ofício. “Esse tipo de trabalho vem da alma da gente”, afirma.
O reconhecimento da comissão organizadora e do público emociona o artista, que pretende seguir contribuindo com o festival enquanto tiver saúde. “Fui sempre muito bem tratado pelo pessoal do Carijo. Um respeito que me emociona”, conta.
Ao longo dos anos, cada edição trouxe novos temas, e os troféus acompanharam essa evolução. Algumas ideias partiram da comissão. Outras, da criatividade do próprio escultor. Mas todas têm algo em comum: carregam a alma de quem as cria, e a essência de um festival que celebra a canção gaúcha com raízes profundas.
 

Fonte: Jornal O Alto Uruguai