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Memória
Morte de socorrista do Samu de FW completa um ano
Para a família de Lorezete Ferreira Duarte, homem que ela tentou salvar deve ser levado ao Tribunal do Júri por homicídio
Por: Márcia Sarmento
Publicado em: sexta, 19 de julho de 2024 às 08:26h
Atualizado em: sexta, 19 de julho de 2024 às 08:33h

Dois dias após completar 45 anos, Lorezete Ferreira Duarte, socorrista do Samu de Frederico Westphalen, com 20 anos de experiência, morreu, deixando para trás um legado pela sua trajetória marcada por profissionalismo, dedicação ao próximo e à família. Internada no Hospital de Clínicas de Passo Fundo, não resistiu aos danos causados pelo traumatismo craniano que sofreu no exercício da profissão.

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Na manhã de 19 de julho do ano passado, o Samu de Frederico Westphalen foi acionado para atender a uma ocorrência de tentativa de suicídio, junto com a Brigada Militar e Corpo de Bombeiros, em um paredão de pedras, localizado às margens da BR-386. Na ocasião, a técnica de enfermagem, concursada da prefeitura, tentou socorrer um homem de 32 anos. Porém, ambos caíram de uma altura de nove metros. Ela foi socorrida e encaminhada para atendimento em Passo Fundo, mas morreu, na mesma noite. Ele, com escoriações, foi levado ao Hospital Divina Providência, de FW, se recuperou e recebeu alta posteriormente.

Lorezete deixou dois filhos, um jovem de 22 anos e uma menina, na época, com sete anos. O caso causou muita comoção, não só para a família, como para os colegas e comunidade em geral. A Prefeitura de FW decretou luto de três dias em virtude da morte da servidora e, antes do sepultamento, em Seberi, sua cidade natal, a socorrista recebeu homenagens de unidades do Samu da região.

Indiciamento

Após o fato, a Polícia Civil de Frederico Westphalen instaurou inquérito para apurar as circunstâncias do caso. No fim de agosto do ano passado, o delegado responsável pelas investigações, Jacson Oiliam Boni indiciou o homem envolvido por homicídio doloso, por entender que ele assumiu o risco de causar a morte de Lorezete. 

Segundo as investigações, a técnica de enfermagem e o suspeito teriam caído do paredão quando a socorrista se aproximou dele. “Ficou claro que o investigado, ao ser agarrado pela vítima, realizou um movimento de alavanca e a projetou por cima dele, fazendo com que os dois caíssem barranco abaixo e, assim, causou a morte dela”, disse a autoridade policial ao concluir o inquérito, que foi remetido ao Judiciário. Agora, cabe ao Ministério Público e ao Poder Judiciário decidirem se o indiciado será submetido ao Tribunal do Júri.

Família pede pelo julgamento

Janete Duarte, irmã de Lorezete, afirma que a família busca por justiça. Segundo ela, mensalmente, vai ao Ministério Público para saber se o processo teve alguma evolução. “Faz quatro meses que recebo a mesma resposta, de que foi solicitado exame de sanidade mental do envolvido, sem nenhuma alteração”, conta. A familiar acrescenta ainda que toda a família sofre com o ocorrido, principalmente, a filha de Lorezete, hoje com oito anos, e que mora com os avós maternos. “Ela precisa de acompanhamento psicológico permanente para superar a perda da mãe, já que era criada por ela, sem o pai biológico. Mas todos sofremos porque não aceitamos a sua partida”, pontua. 

Para Janete, ainda pior são os julgamentos, pois muitos comentários surgiram após o ocorrido, questionando a decisão de Lorezete, de subir no paredão para tentar salvar o homem. “Não foi a primeira vez que ela foi salvar ele. Se não fosse preparada, porque a deixaram subir lá? As pessoas julgam e dizem que ela não era preparada para isso. E eu digo exatamente o contrário. Ela era 100% preparada. Além de socorrista do Samu, era técnica de enfermagem concursada do município e instrutora de curso para socorristas. Ela tinha mais de 100 cursos, comprovados, com certificado”, garante a irmã. 

Por fim, Janete destaca que confia na justiça para definir o desfecho do caso. “Eu, como irmã da Lore, sinto revolta, porque o rapaz está vivendo normalmente, chamando-a de mulher maravilha, que quis bancar a heroína ao tentar salvar ele e acabou morrendo. Essa é a minha indignação. Eu vou até o fim em busca de justiça, pois confio na justiça dos homens. Então, gostaria de fazer um apelo ao Ministério Público para não deixar o caso cair no esquecimento, para não deixar a morte da minha irmã ter sido em vão. Ela morreu fazendo o que ela amava. Morreu para salvar outra vida”, finaliza.

Homenagem

Nesta sexta-feira, 19, a partir das 18 horas, vai ser realizado um “sirenaço” em homenagem à Lorezete, em frente à Catedral Santo Antônio, em Frederico Westphalen. O movimento envolve o Corpo de Bombeiros, a Brigada Militar e o Samu.
 

Fonte: Jornal O Alto Uruguai