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Educação
Volta às aulas presenciais aquece debate em torno de ensino domiciliar
Governo tenta aprovação de projeto de lei que possibilita adoção de ensino domiciliar no Brasil
Por: Mariane Brandão
Publicado em: segunda, 19 de abril de 2021 às 11:06h

A definição sobre o retorno das aulas presenciais ganha cada vez mais espaço, dentro e fora das salas de aula, envolvendo opiniões favoráveis e contrárias de alunos, familiares e sindicatos educacionais. Além da preocupação com as questões sanitárias e risco de contágio por Covid-19, a possibilidade de adesão do ensino domiciliar como alternativa durante a pandemia movimenta o debate em torno do assunto.

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Apesar das prerrogativas do conforto da aprendizagem domiciliar, a polêmica sobre aderir ou não ao ensino leva à reflexão de outros diversos fatores que envolvem a adaptação dos estudantes e suas respectivas famílias, além da alteração no cotidiano de profissionais de educação.

Convivência social escassa

Um dos principais argumentos utilizados por opiniões contrárias ao ensino domiciliar e favoráveis ao ensino presencial se refere ao convívio social escasso na infância, durante a pandemia. O período da infância, essencial para o desenvolvimento físico e intelectual dos pequenos, sofreria danos devido ao maior isolamento do ensino domiciliar, como argumenta as objeções. Mesmo com as novas exigências sugeridas pelo MEC para a adoção do ensino domiciliar, que exigiria que pais assegurassem o convívio social dos filhos, a preocupação de familiares e especialistas também é amplamente discutida.

No Estado de Minas Gerais, cerca de 1,5 mil – entre médicos pediatras, neuropediatras, psiquiatras, infectologistas e outras especialidades – assinaram um documento em apoio às escolas que, segundo o manifesto, deveriam ser "as primeiras a abrir e as últimas a fechar". Como mostra uma entrevista realizada pela “Revista Encontro” com a médica pediatra, cardiologista, intensivista e mestre pela UFMG, Carolina Capuruço, especialistas notaram o aumento de transtornos mentais em crianças e adolescentes na pandemia.

– Em relação aos transtornos mentais, nós, médicos, já detectamos aumento significativo de ansiedade, depressão e das tentativas de suicídio em crianças e adolescentes, e, infelizmente, também dos casos consumados. Estou muito preocupada porque em 17 anos de consultório nunca fiz tantos encaminhamentos para psiquiatria. Nos últimos meses atendi mais que em todos esses anos casos de ideação suicida – afirma Carolina.

Do outro lado da tela

Por outro lado, quem ministra e articula a modalidade de ensino on-line têm sido alvo frequente de uma menor carga horária e excesso de trabalho, como aponta uma pesquisa recente. Segundo o levantamento da “Realidade Docente 2021”, os professores tiveram as suas tarefas e responsabilidades multiplicadas, no caso da educação superior, enquanto ainda possuem o encargo de bancarem sozinhos os custos resultantes do home office. 

A pesquisa, que foi encomendada pelo Sinpro/RS, Sinpro Noroeste e Sinpro Caxias, realizada com docentes do ensino privado gaúcho, mostra ainda que houve um agravamento nas condições de saúde para 77% dos entrevistados, sendo que para 55% dos professores a condição física e mental “piorou”. 

Além do adoecimento e de terem que se adaptar a novas metodologias de ensino, outro desafio durante a pandemia são os investimentos para adequar o espaço de trabalho em casa. Os professores tiveram que encarregar-se de planos de dados, computadores, celulares e mobiliário, em média de R$ 3.143,02, no mesmo tempo em que as instituições de ensino se limitaram a oferecer treinamento, como destaca o levantamento. 

Debate em vigor 

A discussão pela volta às aulas é outro fator que aquece o debate mediante uma possível adoção do ensino domiciliar no Brasil. O advogado e presidente da Federasul, Anderson Trautman Cardoso, publicou um editorial, “Sem aulas, sem futuro”, em que ressalta a sua preocupação com a ausência de ensino presencial nas salas de aula. Segundo Cardoso, as consequências do fechamento prolongado para o país são brutais, além dos prejuízos pedagógicos, também os impactos à saúde mental de crianças e jovens. 

– Dizer que colégios fechados preservam vidas é tratar o tema com reducionismo. Além de não haver pesquisas científicas robustas que comprovem que esses espaços são vetores de transmissão, também temos a alternativa da vacinação, que deve ter como público prioritário os professores. Quem defende e trabalha por um país próspero não pode conceber que as escolas sejam os últimos serviços a serem retomados. Alimentos são essenciais. Medicamentos são essenciais. No Brasil, infelizmente, educação não é – destaca o presidente da Federasul. 

Com um questionamento do impacto da ausência das aulas no futuro e na economia do país, Anderson Trautman Cardoso ainda afirma que a modalidade on-line de ensino não é satisfatória. “Quem tem filhos sabe que o sucesso no ensino a distância é exceção. A desmotivação é gerada pela dificuldade em manter a atenção, falta de convívio com os colegas, entre diversos outros fatores”, acrescenta Cardoso.  

Educação em casa: modalidade de ensino é prejudicial ou solução na pandemia?

Com o objetivo de introduzir uma nova modalidade de educação no Brasil, diante do cenário de isolamento social, o governo está em tramitação do homeschooling – ensino domiciliar – no país, que possibilita que estudantes sejam ensinados em casa. Assim como outras atividades cotidianas, a vida escolar mudou completamente para

crianças e jovens durante o período de pandemia. As aulas presenciais deram lugar às remotas e exigiram de alunos, familiares e profissionais de educação o domínio de diferentes metodologias de ensino para o processo de aprendizagem.

O substitutivo do Projeto de Lei nº 2401, de 2019, foi elaborado pelo Ministério da Educação (MEC) e Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos e deve possuir “como base os conteúdos curriculares mínimos referentes ao ano escolar”. As regras mais rígidas do novo texto ainda demanda que os estudantes teriam que ser submetidos a avaliações trimestrais e os pais deveriam "assegurar a convivência comunitária" das crianças, enquanto cursarem o homeschooling. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, também afirmou em uma audiência na Câmara dos Deputados, que é favorável ao ensino domiciliar e que o motivo para essa modalidade ainda não ser adotado é pelo país “politizar o tema”.

Fonte: O Alto Uruguai
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