Quando ler é um suplício
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terça, 30 de maio de 2023

No decorrer dos quatro, cinco ou seis anos de faculdade, costumamos ler um compêndio de livros e mais outros tantos se resolvermos seguir a trajetória acadêmica cursando um strictu sensu. O rol de obras que vamos colecionando ao longo do curso corroboram para nossa biblioteca pessoal quando formados, pois não raro precisamos recorrê-las em início de carreira, como forma de revisar algum conteúdo esquecido. Sou do tempo das enciclopédias, das pesquisas que perduravam por dias em bibliotecas, tendo os livros e um café como companhia. Assisti o advento da internet e todas as facilidades que promoveu na disseminação de conhecimento, facilitando o acesso remoto à leitura de obras e periódicos, antes só possíveis in loco. O acesso gratuito de materiais na rede, também colaborou com quem não dispunha de recursos para investir na compra de livros, aposentando em parte, a aquisição de obras. No entanto, as facilidades que chegaram com a internet, vieram acompanhadas de um problema social: o desinteresse pela leitura que se acentuou com o fácil acesso às resenhas de obras e trabalhos acadêmicos. Nesse cenário, o professor se reinventa na panaceia didática por meio de estratégias metodológicas que garantam êxito no processo ensino-aprendizagem e instiguem a leitura. O olhar atento de quem ama ensinar, busca atender as mais diversas necessidades apontadas pelo alunado, como a falta de acesso às obras listadas nos programas das disciplinas, a falta de recursos para fazer cópias dos materiais deixados para leitura e o maior dos problemas: o desinteresse, só ativado quando a leitura é cobrada mediante nota. São conjunturas só sabidas por quem vive no meio acadêmico e que preocupam, no que tange ao que nos move a ler, normalmente em “Ação que oferece vantagens, e não uma ação que proporcione prazer...” (Barthes), o que causa estranhamento, já que deveria existir prazer em leituras que levam à formação da profissão que elegemos. Se não há paixão por conhecimento enquanto aluno, certamente não haverá amor nas atividades laborais uma vez profissional. 
O aluno que se adequa ao comodismo da retórica docente, aceita ter um aprendizado vertical, onde o professor dá a sua visão acerca dos assuntos abordados sem discussão dos temas, pois sem leitura prévia, impossível discorrer sobre algo com argumentos plausíveis. Parte do saber acadêmico ocorre por meio da leitura, que possibilita a compreensão do todo, permitindo que sejam feitas conexões em busca da coerência e, proporcionando a formação de um profissional crítico e reflexivo, já que “a preguiça mental conduz a humanidade ao caos social e cultural” (Pinheiro). Rogo para que existam mais ações afirmativas que oportunizem investimentos em educação por conta de verbas destinadas à aquisição de materiais didáticos, como livros, e cota para cópias. Mesmo assim, considero que ainda não resolveríamos a resistência à leitura, já que depende de interesse. É mister que “Ler fornece ao espírito materiais para o conhecimento, mas só o pensar faz nosso o que lemos” (John Locke).
 Bons Ventos! Namastê.


 

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