A virtude de ser elegante
**Os artigos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, não traduzindo a opinião do jornal O Alto Uruguai
quarta, 15 de fevereiro de 2023

Apesar de ser conhecido pela obra-prima “O Elogio da Loucura”, dedicada a seu amigo Thomas More, o filósofo e humanista neerlandês Erasmo de Roterdã (ou Roterdão) também foi responsável por um dos primeiros tratados de civilidade e normas de conduta. A “Civilidade Pueril” aborda a importância do ensino das regras de conduta nos primeiros anos de vida, além de detalhar regras do comportamento humano em sociedade. Podemos dizer que foi o primeiro Manual de Etiqueta, contudo muito diferente dos manuais que conhecemos atualmente, pois não se ocupava apenas de repassar regras de conduta à mesa e protocolos, na medida em quem se pautava em valores como amor pelas artes, piedade e responsabilidade pelos problemas sociais, além de uma educação inclusiva onde todos tivessem acesso às mesmas informações.  A partir dessa proposta, era fácil perceber que Erasmo buscava a coesão social e disseminar uma educação de base evitando que maus hábitos fossem arraigados, pois “O hábito torna aceitável o pior dos absurdos”. Sua utopia em socializar as regras de boas maneiras foi vencida pela aristocracia da época, o que pouco difere do cenário vigente, onde apenas uma minudência tem acesso a esse tipo de estudo. E quando se fala em etiqueta, existe a tendência em vinculá-la aos termos: elegância e classe, o que é um erro, pois são coisas distintas e que merecem ser destacadas como forma de evitar imbróglios. A etiqueta nada mais é do que um conjunto de normas a serem seguidas e que exigem conhecimento, enquanto a elegância é nata, sendo apenas lapidada com a soma desse conhecimento e por isso, cada vez mais rara. A elegância deve ser algo natural e que não decorra de plateia para se manifestar. Acima de tudo “Sem elegância no coração, não há elegância” (Yves Saint Laurent). Quanto a ter classe pergunto: O que é uma pessoa “de classe”? Nascemos escutando falar que “ter classe” é ter boa criação e boas maneiras, o chamado “ter berço”. Será isso mesmo? Para essa resposta é necessário mergulharmos na história onde encontramos o sentido inicial dado à expressão, que designava pessoas privilegiadas financeiramente e que, por conseguinte, podiam aproveitar dos benefícios de uma boa educação. Isso nos leva ao tratado de Erasmo e sua preocupação em ensinar desde a infância, boas maneiras. Certamente uma expressão elitista, mas que dependendo do uso e do contexto pode denotar coisas diferentes. Exemplo dessa mutação é o cenário hodierno, onde algumas pessoas mesmo podendo desfrutar de uma boa educação, insistem em resvalar na baixaria de atitudes desprezíveis. Logo, para esses indivíduos a alcunha “ter berço” não serve, pois está mais que comprovado que ter dinheiro não é sinônimo de boa educação. Pode ser pessimismo, mas vejo uma sociedade cada vez mais deselegante, ofegante por status e colunas sociais, carente de humildade e alienada no que tange a cidadania. Pessoas desprovidas de cultura ou gosto pela arte. Um verdadeiro império de gente arrogante, grosseira e afetada, cujo nariz empinado chega no lugar do “Bom Dia”. Gente que não tem traquejo social e que se perde no serviço de vinhos ou em uma mise en place mais elaborada, mas mesmo assim, acha que possui finesse. Gente que trata subalternos como lixo, simplesmente porque não os considera como gente. Sim... É preciso fazer o dever de casa antes de tentar ser o que não é e, entender que fazer parte da high society não é passaporte para elegância. 
Bons Ventos! Namastê.
 

Fonte: