Ordenando o caos
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sexta, 30 de setembro de 2022

No princípio tudo era o Caos.... Assim começa nossa história, num abismo cego e absoluto, mas instigador. Na mitologia grega a Terra (Gaia) surge do seio do Caos (Kháos), sendo Gaia a representação da presença que se opõe a ausência de seu gerador que é o vazio existencial. Saramago diz que “O caos é uma ordem por decifrar ”, na eterna batalha entre a ordem e a desordem que figura em várias culturas e se preserva até os dias de hoje. Na sociedade hodierna, costumamos associar o caos a coisas ruins e, volte e meia vociferamos: “Minha vida está um caos! ” Contudo, quem disse que o Caos precisa ser ruim? Pode existir uma ordem na desordem, depende do ponto de vista de cada um. Para alguns, a ideia é seguir a ordem estabelecida, tanto que não suportam o menor desvio de rota. No entanto para outros, existe uma desordem ordenada que os faz viver de forma estocástica, entregues a eventos aleatórios sem medo dos resultados. É como lançar dados e se permitir ter no mínimo, seis possibilidades como as faces do dado, e isso é ser flexível. Podemos desmistificar um pouco sobre o caos quando entendemos não ser possível controlar a história como forma de nos dar segurança do futuro. Pois, por mais que queiramos controlar o futuro e idealizá-lo, as coisas não costumam acontecer da forma que planejamos, já que são muitas as variáveis. Assim, nos sentimos limitados e sofremos por não ter as rédeas do próprio destino. Conforme Freud, esse sofrimento pode nos ameaçar em três dimensões: do mundo externo (algumas vezes ameaçador), das pessoas que convivemos (com suas normas, crenças e valores, tantas vezes antagônicos aos nossos) e do corpo (que adoece, degenera e morre). Sim... Lidamos muito mal com o imprevisível e com as perdas, sobretudo com a morte, seja ela de um vivo ou de um morto. Logo, precisamos evoluir e nos contentar com o resto que sobra de nossas vivências como as boas lembranças, ao invés de ficar desfiando as perdas como um rosário. Pode até parecer uma atitude de conformismo exacerbado, mas chamaria de “Inteligência Emocional” e sentimento de autopreservação. Afinal, não podemos ressuscitar mortos, tão pouco morrer com eles. Durante a vida passamos por várias fases limite, onde tudo de ruim acontece ao mesmo tempo, como se “o céu estivesse caindo em nossas cabeças”. São aqueles momentos em que a tragédia brinca com a comédia como gato e rato e nos faz marionetes de seus desejos. “Quando tudo nos parece dar errado, acontecem coisas boas que não teriam acontecido, se tudo tivesse dado certo” (Renato Russo). Podemos descobrir grandes oportunidades quando saímos da rotina do que conhecemos como felicidade, de um emprego novo a um grande amor. Então, não reclame quando o caos lhe bater à porta! “É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante”.

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