Não há desculpa para o crime
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segunda, 29 de agosto de 2022

Uma das minhas filhas é ciclista urbana, ou seja, usa a bike não apenas para recreação, mas também como meio de transporte. Os benefícios para a saúde em pedalar são muitos, como a redução do colesterol, a melhora na circulação, o equilíbrio na pressão arterial sem falar na contribuição com o meio ambiente, por conta da redução da emissão de gases efeito estufa. Quando ela começou a pedalar anos atrás, minha preocupação era constante com sua segurança. E se algum motorista invadir a ciclovia? E se algum meliante tentar algum tipo de violência? Demorei até amansar o coração e me render aos seus argumentos de que estaria mais segura transitando à noite de bike, do que usando um transporte coletivo. Observei sua responsabilidade enquanto ciclista no trânsito caótico da nossa Porto Alegre e concordei que ela estando de bike, corria menor chance de ser assaltada ou coisa pior, já que a menina solta as tranças no pedal quando a pista permite. Aparentemente tudo na santa paz, se ela não tivesse tido suas bikes furtadas por três vezes, mesmo usando cadeado U-lock, o mais recomendado para prender bicicletas. 
Fiz toda essa preleção para restar no cerne da questão, a violência. São várias as correntes que se propõem a estudar a motivação que leva um indivíduo a cometer um delito. A corrente freudiana advoga que o comportamento antissocial e a delinquência são decorrentes de um desequilíbrio entre o ego, o superego e o id, fazendo com que as regras sociais sejam rompidas e o sujeito procure o crime esperando ser punido, satisfazendo assim, seu desejo de culpa. Outros teóricos atestam que a má nutrição leva ao comportamento criminoso e, na ótica sociológica, a justificativa é corroborada devido ao meio desfavorável de pobreza em que alguém vive. Contudo, se pensarmos que vivemos em um país com mais de 50 milhões de indigentes, logo, teríamos uma orbe de criminosos pelas ruas causando o terror fosse a miséria um fator significativo para alguém virar bandido. A pobreza não leva ninguém ao crime e chega a ser preconceituoso esse pensar, ofendendo gente humilde que batalha diariamente e de forma honesta para colocar o pão de cada dia na mesa. Advogo que a índole ainda fala mais alto e responde muito pelo caráter de alguém do contrário, como explicar sobre irmãos que receberam a mesma criação e conviveram no mesmo habitat, em que um vira bandido enquanto os demais seguem uma vida honesta? Sem dúvida é a índole, refleti com raiva e esbravejando, enquanto assistia impotente a bike da Fernandinha sendo furtada. E o biltre? O malandro debochadamente abanou, sumindo pelo corredor de ônibus, fazendo cavalinho de pau. Ainda absorta, escuto um murmúrio da Fernandinha sobre a falta que a bike ia fazer, que esperava que fosse bem cuidada (a maioria dos ciclistas nomeia suas bikes e adquire um apego, quase igual ao que se tem por um pet), no que eu respondi: "Não te preocupa, tua bike morreu no instante em que a levaram de ti. Guarda as lembranças".
Bons Ventos! Namastê.


 

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