Heróis agostinhos
**Os textos de colunistas aqui publicados são de sua total responsabilidade e não refletem a opinião do jornal O Alto Uruguai
segunda, 30 de agosto de 2021

O agosto é tão desprestigiado que o alcunharam de “mês dos cachorros loucos”. Se o dia 13 cair em uma sexta-feira, salve-nos Deus, não saia de casa, pois desgraças inimagináveis poderão acontecer. Para desmistificar estas crendices, que alimentam a fantasia popular, começo dizendo que minha mãe gerou três filhos neste mês – Lírio, Célia Maria e Maria Inês. Todavia, é o mais farto em heróis da santidade: 

São Roque (16 de agosto) – Começo com o padroeiro de Taquaruçu do Sul. Viveu no século XV e era francês. Doou os bens aos pobres. Peregrinou a Roma, tendo sido surpreendido pela peste. A prudência sugeria que evitasse os locais infestados. Mas onde surgia um foco infeccioso, lá estava Roque. Não demorou e apareceu na perna um repugnante bubão que o impeliu para o deserto. Narram biógrafos que teria morrido de fome, não fosse um cachorro lhe trazer um pão. Mais tarde, confundido com um ladrão, foi jogado na cadeia por cinco anos, vindo a morrer abandonado.

São Pio X (21 de agosto) – Foi um papa extraordinário que promoveu a renovação litúrgica, codificou o Direito Canônico, impulsionou a instrução religiosa, permitindo a comunhão em tenra idade. Nada diplomático, criou atritos com a Rússia, EUA, Alemanha, França e Portugal. Apesar disso, era simples como um camponês de origem. Quando o chamavam de Santo Padre, corrigia, “não, Sarto Padre”, pois seu nome era Giuseppe Sarto. Ocorreu uma coincidência em sua vida: Foi NOVE anos capelão, NOVE pároco, NOVE cônego, NOVE bispo e NOVE cardeal. Mostrou a sua mãe, quando foi visitá-lo no Vaticano, seu anel de papa. Ela retrucou: “Você não teria aquele, se eu não tivesse este” – e exibiu a aliança desbotada de casamento. Ao embarcar no trem, de Veneza para Roma, a fim de participar do conclave que o elegeu Papa, tinha já comprado a passagem de ida e volta. Morreu em 1.914.

Santa Rosa de Lima (23 de agosto) – Isabel Flores y de Oliva pertencia à rica família espanhola que se transferiu ao Peru em 1.586. O nome ROSA foi um apelido posto pela empregada índia que, maravilhada pela extraordinária formosura, dizia: “Você é bonita como uma rosa”. Falindo a família, ganhou a vida na lavoura e na costura. Recusou o pedido de abastado casamento, fez os votos em casa, construiu uma cela no fundo do quintal e dormia dentro de um saco de estopa. Foi a primeira santa da América Latina. Pregava: “para subir ao Céu, só existe uma escada – a cruz”.

São José Calazans (25 de agosto) – Nasceu em 1.557. Naquele tempo, em Roma, as escolas eram um negócio privado. Quem tinha dinheiro pagava professor para dar aulas em casa. Com parcas economias, construiu a primeira escola gratuita aos filhos dos pobres. Fundou uma Congregação que, além dos votos de pobreza, castidade e obediência, acrescentou um quarto, a instrução aos jovens. A instituição logo se espalhou pela Europa, com programas destinados aos meninos de periferia. Lembro aos analfabetos históricos o quanto a Igreja contribuiu para o ensino no mundo. No Brasil, foi dela o mérito de civilizar os índios e criar as primeiras universidades. E para a coluna não ficar muito beata, acrescento ainda Getúlio Vargas, em minha opinião, o político de maior envergadura do País, que no dia 24 de agosto de 1.954 se suicidou, escrevendo na Carta Testamento: “Saio da vida para entrar na história”. 
 

Fonte: