Publicidade
Leite
Número de produtores apresenta queda de mais de 50% nos últimos oito anos
Embora famílias tenham saído da atividade, porcentagem de produção tem crescimento
Por: Wagner Stan
Publicado em: terça, 29 de agosto de 2023 às 10:58h
Atualizado em: quarta, 30 de agosto de 2023 às 09:57h

Motivo de manifestações em todo o país, a produção leiteira vem enfrentando diversos desafios nos últimos 10 anos. Entre os problemas está a redução no número de produtores, aumento do custo de produção, estiagens, entre outros. No início do mês, representantes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS) realizaram uma mobilização em Porto Xavier, com o objetivo de pressionar o governo federal e estadual a tomar medidas para apoiar os produtores de leite do Estado contra a importação massiva de produtos lácteos estrangeiros, principalmente do Mercosul. 
De acordo com o presidente da Fetag-RS, Carlos Joel, a situação em que os produtores de leite vivem atualmente é crítica. Ele destaca que hoje o produto vem sendo vendido em valor muito abaixo do custo de produção, tendo produtores comercializando o litro de leite por R$ 1,36, onde o custo de produção foi de cerca de R$ 2,20. Joel frisa, ainda, que falta um incentivo ao produtor e que não há um projeto de desenvolvimento da produção leiteira por parte do governo federal. 
O produto que vem de países do Mercosul, por vezes, é comercializado por um preço muito abaixo do nacional, como por exemplo o leite em pó/kg, que chega a ser importado com cerca de R$ 7 mais baixo que o produto nacional. Um dos motivos do produto do exterior ser mais barato é a qualidade na produção, tendo solos melhores para pastagem, subsídio por parte dos governos e tributação menor que a brasileira. 
Na última semana, o presidente do Fetag esteve em Brasília, acompanhando os desdobramentos da manifestação em Porto Xavier, e destaca que o governo, como resposta, irá realizar uma fiscalização mais dura em cima dos produtos importados, com o objetivo de que o produto que venha de fora conte com as mesmas exigências do produto interno. O governo federal anunciou ainda o aumento de 12% para 18% a alíquota dos queijos e de manteiga importados da continente europeu, e a compra de leite em pó no valor de R$ 200 milhões por meio da Companhia de Abastecimento (Conab) para desafogar o mercado interno. 

Publicidade

Panorama no Estado 
Em estudo da Emater/RS-Ascar, divulgado em 2021, o número de produtores de leite no Rio Grande teve uma redução drástica de 84 mil para 40 mil produtores no Estado, cerca de 52,28%. Durante a Expointer deste ano, a Emater deve apresentar o levantamento referente aos anos 2021 e 2022, mas a expectativa é de que o número seja reduzido. 

Frederico Westphalen: número de produtores diminui e produção aumenta 

De acordo com dados levantados pela Emater de Frederico Westphalen, desde o ano de 2014, a conjuntura atual da produção leiteira no município apresenta queda no número de propriedades na atividade, mas aumento no número de produção. Segundo o levantamento realizado, o número de propriedades leiteiras em FW teve uma redução de cerca de 52,71%, passando de 423, em 2014, para 200, em 2022. 
Embora o número de propriedades na atividade tenha diminuído, o número de produção de leite inspecionado neste período teve um acréscimo de cerca de 44%. Em 2014, eram produzidos 12,8 milhões de litros no município, e em 2022 o número passou para 18,5 milhões. O pico de produção foi no ano de 2020, onde os produtores do município chegaram a produzir 19 milhões de litros em um ano. 

Pequenos produtores têm saído da atividade ou aumentado produção 
Ainda o levantamento destaca a porcentagem de propriedades de acordo com sua faixa de produção média/litros/dia entre 2016 e 2022. As propriedades que produziam cerca de 1 a 100 l/dia representavam 56% da produção municipal, o que hoje representa cerca de 33% (2022). Já as propriedades que produziam de 301 a 500 litros, representavam 5%, em 2016, o que hoje representam 20% (2022). Ainda, os produtores que produziam mais de 201 litros/dia representavam em 2016 cerca de 9%, o que hoje representa cerca de 12% (2022), e propriedades com mais de 501 litros/dia passaram de 2% para 11%. Esses dados representam que os pequenos produtores têm saído da atividade, ou ingressado em faixas maiores de produção.
De acordo com o engenheiro-agrônomo Jeferson Vidal Figueiredo, os principais motivos que dificultam a atividade no município são fatores globais, como a guerra da Ucrânia, onde os commodities tiveram um aumento significativo, gerando incerteza do mercado. Ainda, a pandemia da Covid-19 também teve grande impacto nos pequenos produtores. A questão climática também tem impactado os produtores da região, que enfrentam ainda hoje os impactos dos quatro anos de estiagem. 
Embora exista diversos desafios, o engenheiro destaca a importância da gestão da propriedade, buscando suporte e assistência técnica junto a Emater para um bom desenvolvimento da produção, evitando perdas. A propriedade rural hoje é uma empresa e deve ser tratada como tal, com cuidado com gastos, custos e números. A partir de 2016, a Emater iniciou um trabalho com o objetivo de motivar e incentivar o produtor com assistência técnica especializada, e realizando parcerias com outras entidades a fim de dar o suporte necessário para o crescimento do setor no município. 

Fonte: Jornal O Alto Uruguai
Vitrine do AU