Publicidade
Olímpicos
Olímpicos: arremessos de um sonho interrompido
Motivado pelo amor ao basquete, Willian Dal Canton Cadore, 28 anos, conta sua trajetória na prática da modalidade
Por: João Marcelino*
Publicado em: segunda, 05 de julho de 2021 às 13:36h
Atualizado em: segunda, 05 de julho de 2021 às 13:43h

Arremessos, lances livres e pontos somados ao placar. Passe de bola, defesa e ataque. Os intervalos de tempos de 10 minutos e a tensão em quadra era como, desde criança, Willian sonhava com o basquete em sua vida, sem saber. Com tom entusiasmado, Willian Dal Canton Cadore, 28 anos, conta quando conheceu a primeira bola de basquete e sua história começou. Como quase todas as crianças de sua idade, aos 10 anos ele era muito criativo e esperto. Sua relação com o esporte começou desde cedo, brincando de bola na rua com os vizinhos.

Sem registro em memórias de como aconteceu, Cadore, que naquela época morava em Frederico Westphalen, relata que o primeiro contato com a bola de basquete aconteceu por meio de sua mãe. Entre algumas bolas antigas e usadas, uma se destacou aos olhos do menino. De cor amarela e verde, a bola que saltava no chão o encantou. O grupo que antes praticava outros esportes, se direcionou a jogar basquete. Sem quadra, tabelas e marcações, eles brincavam na rua em frente de casa, preenchendo as ruas de FW com o som do quicar da bola. Guiados por latões de lixo vazios improvisados como cestas, começaram a jogar ali mesmo. 

Ao encontrar uma quadra na cidade, as perspectivas mudaram. Os dias daqueles garotos continuaram preenchidos pelos sons da bola batendo no chão, mas em um novo lugar. Com tabela, aro e marcações, foi ali que o sonho cresceu e o que antes eram algumas brincadeiras passou a ser o jogo de basquete. Como naquela época o acesso à internet era limitado e por linha discada, com poucas informações aprenderam sozinhos, movidos pela força de vontade em fazer aquilo que amavam. “A gente jogava um pouco diferente do que se joga hoje, era o nosso jeito de fazer basquete. Aprendemos as regras do jogo depois, quando passamos a jogar em campeonatos”, relata.

Publicidade

Em busca de oportunidade
Movido pela ânsia de aprender, aos 18 anos, Cadore procurou uma oportunidade. Com uma resposta inesperada, com a ajuda da mãe, rumou a Toledo (PR), até então desconhecido, mas que guardava o início de um sonho de criança. Ficou alguns dias em solo paranaense e foi convidado a integrar o time municipal na temporada que se iniciaria no início do ano seguinte. 

Cadore aceitou o desafio e retornou para FW obstinado em se aprimorar antes de começar a realizar seu sonho. Mas a ânsia em atuar com aquilo que ama se converteu em pesadelo quando ele exagerou nos treinamentos e se lesionou. Teve de ficar dois meses parado e viu frustradas as expectativas. O jogo entrou no intervalo. 

O número 13
Com a virada do ano, o sonho aconteceu e o jogo fluiu. Cadore passou a residir em Toledo e atuar pelo time local. Antes do primeiro campeonato, a treinadora fez a convocação do grupo que iria disputar o torneio. Dos 20 atletas, apenas 13 iriam competir. A cada jogador anunciado, a expectativa aumentava, junto com a angústia em não ouvir seu nome. No número 13, Cadore foi chamado, sem acreditar. Naquele dia, o caminho de volta para casa foi mais feliz. “Eu era muito esforçado. Eu sabia que eu não tinha o nível deles, eram meninos que vinham sendo treinados desde muito novos. Mas a técnica percebeu meu esforço e o meu primeiro campeonato aconteceu”, declara.

Entre algumas vitórias e derrotas, o primeiro campeonato, a Taça Paraná, foi marcado com oito meses de duração e a vitória nas classificações com o primeiro lugar. Meses depois, o time disputou os Jogos Abertos do Paraná Série A e, embora tenham perdido e não se classificado, Cadore relembra com alegria aquela época.

O arremesso final
No Brasil, atletas enfrentam diariamente dificuldades em se manter no esporte e, por vezes, a prática não é vista como profissão. Com Cadore não foi diferente. No fim daquele ano, com o encerramento do campeonato, o frederiquense prestou vestibulares e se classificou para uma bolsa de Arquitetura em Cascavel (PR). E então, chegou a hora de tentar o “arremesso” rumo à decisão final. O impasse estava entre seguir acreditando no sonho de jogar basquete ou aproveitar a bolsa como oportunidade em ter uma profissão e um curso superior. E assim mudou a rota e foi cursar Arquitetura na cidade que reside atualmente.

Os horários, que antes eram dedicados à modalidade, foram encobertos pelas aulas. E foi nesse momento que Cadore entrou em depressão. A vida perdeu o sentido, e o que na época era amor, naquele momento causava dor. Da janela de casa, a quadra de basquete o observava. Mesmo sem vontade, Cadore continuava cercado pelo esporte do coração. Com os tênis velhos e empoeirados, a bola antiga, e roupas largas, pouco a pouco voltou a praticar entre alguns lances e arremessos. Demorou alguns anos até que ele voltasse e passasse a jogar pelo time da faculdade e participar de alguns campeonatos com boas classificações e prêmios individuais.

Religioso e com muita fé, Cadore relata sua crença em Deus e cita ser um dos motivos no qual sempre seguiu firme e aos poucos voltou a fazer aquilo que mais amava. Mas o sonho de se tornar profissional de basquete morreu. Assim como a maioria dos esportes, se tornar profissional depois dos 18 anos é um feito que não acontece com frequência. Cadore relata que a dificuldade não está no nível que se joga, mas em ser reconhecido. Os campeonatos e jogos abertos, quando criança, são vitrines de jogadores. E mesmo tendo uma oportunidade mais tarde, a vida tomou outro rumo e hoje Cadore segue jogando basquete por amor. Entre alguns arremessos de um sonho interrompido, hoje ele aspira novos sonhos.

*Sob supervisão de João Victor Gobbi Cassol


 

Fonte: O Alto Uruguai
Vitrine do AU