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Olímpicos
Uma vida guiada pela expressão artística
Apaixonado pela arte, Patrick Moretti uniu aspirações profissionais e sonho de infância para se tornar referência na patinação
Por: João Marcelino*
Publicado em: segunda, 28 de junho de 2021 às 14:39h
Atualizado em: segunda, 28 de junho de 2021 às 14:46h

Na última casa na comunidade do interior, de União do Oeste (SC), quando criança, Patrik Lucas Moretti, hoje com 26 anos, esboçava, sem saber, seu futuro como artista. Hiperativo, como a maioria das crianças, ele gostava de praticar esportes. Brincar, correr e entender o funcionamento das coisas. Uma das curiosidades ficava no alto de uma árvore no quintal de casa. Intrigado e com o auxílio do avô, alcançou o ninho de joão-de-barro e dias ficou arquitetando e questionando tal construção. Com o uso de frases espaçadas que sugerem recordações, Moretti traçava os laços da arquitetura e da patinação ao contar sua história com apreço àquele tempo.

Entre algumas mudanças que a vida ofereceu, aos quatro anos a família passou a residir em Nova Erechim (SC). No momento, Moretti ainda não sabia o que estava por vir. Menino de interior e com poucas oportunidades, passou a frequentar a escola, quando os olhos se encheram de sonhos. Ele cresceu deslumbrado com as apresentações de patinação sobre rodas, sentado no meio dos espetáculos de fim de ano promovidos pela direção. 
Aos nove anos, o menino já começou nas oficinas de patinação. Por ser um esporte pouco conhecido e, historicamente, direcionado a meninas, o começo não foi fácil. Além disso, os equipamentos eram caros e não estavam no orçamento da família. Mas, com orgulho em sua fala, o hoje professor do Clube Magia da Patinação, de Frederico Westphalen, conta que os primeiros patins foram emprestados. 

Ao longo das práticas, com a troca de professora, outras possibilidades surgiram. O atleta que já sabia manter o equilíbrio sobre as rodas passou a praticar com o grupo de Saudades (SC) e a participar de campeonatos regionais. O sonho que começou como uma oficina conquistou novos rumos.

O sonho interrompido
Entre regionais e amistosos, chegou o primeiro campeonato. Ao relembrar, Moretti destaca os imprevistos que ficaram marcados até hoje e que provavelmente o seguirão para sempre. Um deles mostra a perseverança do atleta. Os patins que ele usava não eram apropriados para as competições, para realizar manobras específicas para uma determinada coreografia, e também eram antigos. Momentos antes de entrar em cena para competir, o equipamento de Moretti quebrou. Com fitas adesivas envolvendo a bota dos patins na base das rodas, o atleta conquistou em segundo lugar nas classificações.

Além de imprevistos como esse, Moretti sempre encontrou na distância dos grandes centros uma das grandes dificuldades. Os campeonatos catarinenses eram as poucas oportunidades que ele tinha para participar de torneios. “Participávamos de categorias e seleções e concorríamos a vagas nos campeonatos brasileiro e sul-americano, por exemplo, mas não tínhamos patrocínio. Como a patinação não tinha muita visibilidade, o investimento era pouco. Então, os melhores campeonatos, que garantiam vagas, eram sempre longe, e pareciam muito distantes da minha realidade”, relembra.
O grupo foi evoluindo e com o passar dos anos estava com uma equipe forte. Em 2013, no campeonato catarinense, foram convidados para competir no campeonato nacional. Mas, a distância foi impedimento e o sonho foi interrompido. Apenas no ano seguinte, pelos jogos serem no Estado em que Moretti reside, teve a oportunidade de disputar o brasileiro, classificando-se em primeiro lugar. Na sequência, entrou direto para a Seleção Brasileira e então disputou o sul-americano, em São Paulo, classificando-se em segundo lugar.

Os laços entre a arquitetura e a patinação
Com papel e lápis na mão, entre alguns rabiscos, com o tempo, os desenhos lineares e geométricos levaram Moretti à faculdade de Arquitetura. Encantado por planejar e arquitetar, o jovem também usou os conhecimentos acadêmicos com a patinação. Para ele, os dois sonhos não se separam. Naquela época, quando criança, não entendia de forma tão clara. Hoje, formado em Arquitetura e com vários campeonatos que resultaram em medalhas, o patinador declara que não seria capaz de fazer outro esporte, que não tivesse um desempenho artístico e estético.

As aulas de patinação começaram a preencher a vida de Moretti enquanto cursava a faculdade. Naquele mesmo clube que iniciou suas aulas, agora era sua vez de ensinar. Após formado, a vida foi escorregando como as rodinhas dos patins, rumo à patinação, e ele foi se reencontrando com esse outro lado, o de ensinar. Assumindo três clubes de patinação, o professor relata que sempre imaginou trabalhar com arquitetura e patinação de forma secundária, mas no fim seu principal trabalho é ensinar. “Eu não seria o Patrik se não fosse professor e técnico de patinação artística. Tenho como aspirações para o futuro levar atletas competindo constantemente para o campeonato brasileiro, sul-americano e o mundial”, conta.

Desenhar e estruturar uma parede que será o pilar e base de um edifício não se torna muito diferente para o arquiteto e professor de patinação em planejar e estruturar uma apresentação em movimentos. “Eu não me vejo longe do esporte, mas também não me vejo fazendo um esporte que não seja artístico. É preciso ter ócio criativo muito forte para desenvolver as coreografias da patinação. Isso traz um sentimento de liberdade em conseguir expressar tudo o que estou sentindo em uma coreografia. Interpretar e ser outra pessoa, poder apresentar várias personagens. Ser quem você quer, guiado por uma música que você se identifica”, finaliza.

Esporte olímpico
Séculos antes de Moretti sonhar em ser técnico e professor de patinação sobre rodas, a modalidade nascia derivada da patinação no gelo, por meio de movimentos executados com a finalidade de desenhar figuras. A partir daí, iniciaram-se então as competições de criatividade, que consistiam em desenhar figuras com as lâminas dos patins no gelo, associando-se à capacidade de realizar as figuras com leveza e graça, criando-se assim a patinação artística. 

A patinação artística sobre o gelo é uma das modalidades integrantes dos Jogos Olímpicos e, neste ano, não será diferente. A prática sobre rodas ainda não integra as Olimpíadas, mas parte de uma derivação e representa na prática do gelo. Moretti relembra que não há patinador de rodas que não tenha visto uma apresentação no gelo e não tenha se imaginado lá. Mas complementa, que por ora, as “Olimpíadas” para a patinação sobre rodas são os campeonatos estaduais, brasileiros, sul-americano e os mundiais.

*Sob supervisão de João Victor Cassol

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Fonte: O Alto Uruguai
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