Celebrar as sementes crioulas é uma tradição milenar dos agricultores camponeses. Para estes, a semente não pode ser reduzida ao valor monetário e convertida em moeda, ela precisa antes de tudo exercer o seu papel social de perpetuar a vida, fundamentar a soberania alimentar e firmar a autonomia dos homens e mulheres que dedicam-se a exercer o sagrado ofício de produzir alimentos para todos os demais.
Este é o mote da grande celebração que aconteceu neste sábado, 11, no Centro Territorial de Cooperação, Educação Ambiental e Agroecologia da Cooperativa Mista de Produção, Industrialização e Comercialização de Biocombustíveis do Brasil LTDA (Cooperbio), em Seberi, que abriu suas portas para receber visitantes da comunidade local e regional, bem como delegações de outras regiões, Estados e até de países vizinhos na 6ª edição da Festa da Semente Crioula.
O evento que acontece durante todo o dia, reuniu centenas de visitantes, entre eles autoridades como o prefeito de Seberi, Adilson Balestrin, o prefeito de Cristal do Sul, Otelmo Reis, o deputado federal Marcon, entre outros.
Para complementar os motivos de celebração, a Cooperbio celebra justamente neste período, os 10 anos de implantação do seu centro de formação. Os participantes, além de celebrar as tradições camponesas, compartilhar a mesa repleta de alimentos produzidos sem veneno e sem insumos químicos, trocar informações, mudas e sementes, desfrutar de apresentações de cultura popular, ainda tiveram acesso a uma feira de agroecologia e de economia solidária instalada no mesmo espaço.
Festa da Semente
A 6ª edição da Festa da Semente Crioula aconteceu neste sábado, 11, a partir das 9 horas e se estendeu até o fim da tarde. O evento contou com feira e troca de sementes e mudas, palestras e rodas de conversa, celebração ecumênica, apresentações musicais e culturais, bem como atividades de formação, informação e integração. O programa contemplou ainda a feira agroecológica com expositores de toda região e o tradicional almoço com cardápio típico camponês elaborado a partir de alimentos agroecológicos, produzidos sem veneno e sem aplicação de insumos químicos.
Uma novidade desta edição é a inserção de uma feira de economia solidária no programa, irmanando ainda mais a Festa da Semente na perspectiva do Fórum Social Mundial, que afirma que um outro mundo é possível e uma nova economia é necessária.
Mais informações sobre o evento você confere em nossas próximas edições.
Conheça a Cooperbio
Os cooperados são camponeses e camponesas instalados em mais de 60 municípios da região. Fundada em 2005, tem sua sede instalada na localidade de linha Tesoura desde 2012 e já apresenta um portfólio de inúmeras ações de sucesso, em espacial no campo da agroecologia.
Conforme explica o engenheiro agrônomo Marcos Joni Oliveira, atualmente na presidência da Cooperbio, a estrutura agrária da região é formada predominantemente por pequenos e médios agricultores (45 mil propriedades entre 5 e 50 hectares). No entanto apenas 4,93% dos proprietários concentram 43,87% da terra. “Esse quadro conforma uma região com alta vulnerabilidade socioambiental, mas com elevados potencias para protagonizar projetos e definir agendas regionais integradas nos âmbitos ambientais e socioeconômico”, destaca Oliveira.
–A presença da Cooperbio em Seberi, enquanto iniciativa de cooperação que envolve famílias integrantes da base do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), coloca o município e a região no protagonismo da construção de um modelo sustentável de agricultura, resgatando as experiências coletivas do campesinato, preservando a cultura e a sabedoria popular acumuladas ao longo de séculos de desenvolvimento. Ao mesmo tempo em que estabelece linhas de pesquisa contemporâneas e viabiliza a proximidade com os principais pensadores e pesquisadores da agroecologia em nosso tempo, com vistas a produzir alimento de qualidade para homens e mulheres do campo e da cidade, forjando uma aliança camponesa e operária por soberania alimentar–, arremata o presidente Marcos Joni Oliveira.
Educação, Sustentabilidade, Produção
Acerca do primeiro eixo, Educação para Sustentabilidade, a bióloga Débora Varoli aponta a compreensão da “educação como todo ato e processo de ensino-aprendizagem de base formal ou informal, científica, técnica e/ou popular que elevam as capacidades, valores e recursos dos sujeitos engajados nos processos de transformação da sociedade e natureza”. As ações de educação propostas a partir da Cooperbio e do MPA envolvem, em média, anualmente, mais de cinco mil pessoas por meio de cursos prolongados de capacitação, oficinas, dias de campo, intercâmbios, palestras, assessoria às unidades de produção e agroindústrias.
O eixo que trata da Produção Agroecológica e Alimentação Saudável é apresentado pela acadêmica de Tecnologia em Agropecuária, Viviane Chiarello. “Neste âmbito a cooperativa construiu e mantém o Centro Territorial de Cooperação em Seberi, onde abriga centro de capacitação, alojamento, refeitório, salas de aula e ampla biblioteca; bem como unidades agroindústrias, áreas demonstrativas de produção em sistemas agroflorestais, hortaliças, produção animal orgânica e indústria de bioinsumos”, complementa.
No que diz respeito aos Bioinsumos para transição agroecológica, a engenheira agrônoma e mestre em Fitotecnia Bernadete Reis explica que a cooperativa compreende a transição agroecológica como um processo social, econômico e tecnológico que necessita do apoio estruturante do estado através de políticas sociais e o engajamento comunitário.
– No âmbito tecnológico a metodologia desenvolvida pela Cooperbio incide em práticas como o aumento da biodiversidade nos sistemas de produção, a remineralização dos solos através de compostos de rochas, a ativação da vida do solo por meio dos adubos verdes em sinergia com o aumento de minerais no solo, o uso de biofermentados, biofertilizantes e controladores biológicos, o uso da homeopatia e técnicas da agricultura biodinâmica, e por fim, o desenvolvimentos de sistemas de produção de base ecológica como Pastoreio Racional Voisin, rotação de cultivos, consórcios até os sistemas agroflorestais como forma mais sustentável de produção – explica.