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Aventura
Do Atlântico ao Pacífico em duas rodas
Frederiquense Sérgio Trevisol cruza América do Sul de Leste a Oeste em bicicleta elétrica feita por ele
Por: Douglas Cavalini
Publicado em: domingo, 19 de fevereiro de 2023 às 14:42h
Atualizado em: domingo, 19 de fevereiro de 2023 às 14:50h

Com 57 anos, o engenheiro mecânico aposentado de Frederico Westphalen, Sérgio Trevisol, segue um aventureiro. Foi em 2014, que ele realizou uma de suas principais expedições. Na época, Trevisol foi conhecer a Amazônia de motocicleta, percorrendo a Rodovia Transamazônica. Depois de outras aventuras de moto e Kombi, ele partiu para algo novo.

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Em meados de 2022, ele decidiu cruzar a América Latina de Leste a Oeste, saindo da costa do Oceano Atlântico para encontrar o Pacífico. Mas se, por si só, esse já não fosse um grande desafio, Trevisol foi além e optou por fazer todo o percurso em uma bicicleta elétrica construída por ele mesmo.

Inspirado em um projeto alemão, a bike do engenheiro mecânico é reclinada, permitindo que ele pedale em uma posição mais confortável e por longos períodos. Além disso, possui uma bateria que alimenta um motor, facilitando o seu deslocamento. Uma vez que o projeto da bicicleta estava concluído, Trevisol iniciou o planejamento.

Aberto a surpresas

Mas diferente das outras viagens, o seu plano não era tão minucioso. Ele não sabia onde passaria as noites e nem mesmo onde faria pausas para se alimentar e recarregar a bateria de sua bicicleta, que necessitava de ao menos duas cargas por dia. No dia de 13 de janeiro, o frederiquense foi até Tramandaí, ponto inicial de sua partida, de carro junto com seu irmão.

Do litoral gaúcho, ele começou a pedalar, sempre em direção ao Oeste. Sua única companhia era a bicicleta e as diferentes paisagens. “As minhas viagens são solitárias, buscando sempre a superação pessoal, lidar com as minhas limitações, medos e inseguranças”, explica Trevisol.

A rotina do aventureiro era sair cedo, rodar em torno de 70 a 80 quilômetros, carregar a bateria no intervalo do almoço e em seguida completar os 140 km – meta de distância diária a ser percorrida. “Muitas vezes encontrava tomada elétrica, porém não tinha onde almoçar. Um lanche, ou algo alternativo para comer, era a solução. A prioridade sempre era carregar a bateria”, conta.

Como ilustra Trevisol, o local de dormir e carregar a bateria variava conforme a disponibilidade. Poderia ser uma borracharia de beira de estrada, postos de combustível, camping e até um hotel nas comemorações de etapas concluídas.

Adversidades

No Brasil, a maior dificuldade enfrentada por Trevisol foram os pneus furados, causados por arames encontrados no acostamento. “Todos os dias furava mais de uma vez, e o conserto, em plena rodovia sem sombra, é um grande desafio”. De Tramandaí ele foi em direção a Porto Alegre, passando por Santa Maria, chegando em Uruguaiana para chegar no segundo país da expedição.

Em solo argentino, as paisagens começaram a mudar e as adversidades também. Os fortes ventos passaram a ser a maior dificuldade do frederiquense, bem como a ausência de acostamento. A subida dos Andes, segundo ele, a partir da cidade de Mendoza, foi acompanhado por uma chuva fria, mas que não o impediu de chegar até Uspallata. A estrada segue o vale do Rio Mendoza, cercado por montanhas de beleza única.

Realização

O aventureiro seguiu até a fronteira da Argentina com o Chile, onde passou pelo monumento do Cristo Redentor dos Andes, a mais de três mil metros acima do nível do mar. Com os Andes conquistados, faltava apenas a chegada no Pacífico para concluir o desafio. Trevisol seguiu para a cidade chilena de Concón, seu último destino, 22 dias depois da partida em Tramandaí.

Foi na praia de La Boca que Trevisol finalmente encontrou o Oceano Pacífico. Mas lá ele ficou por pouco tempo, aconselhado pelos nativos a se retirar devido ao local ser conhecido por ser uma área perigosa da cidade. Então, era hora de voltar.

Depois de quatro respostas negativas, ele finalmente encontrou um lugar para recarregar sua bateria. Após duas horas de pausa, ele iniciou a primeira parte do retorno, ainda de bicicleta. Com 30 quilômetros percorridos, ele encontrou um posto de combustível onde pretendia passar a noite. Mas lá, não foi recebido como esperava. “Não podia armar a barraca a não ser no meio de espinhos e sujeiras, e eu teria que sair antes das seis horas da manhã, ainda no escuro”, conta.

Com isso, Trevisol decidiu apenas terminar de carregar a bateria no local e seguir viagem noite a dentro. “Segui pelas rodovias até chegar no meu local de acampamento, fazendo 236 quilômetros neste dia, recorde da viagem, viajando pelo Chile de madrugada”, relata. O plano inicial de Trevisol era completar o retorno de ônibus já do Chile, o que não foi possível.

Então, teve de contar com a ajuda de caminhoneiros.

De carona, seguiu até San Tomé, na fronteira entre a Argentina com o Brasil. Chegando em São Borja, ele conseguiu completar o trajeto de retorno viajando de ônibus.

Ensinamentos

Trevisol conta que sempre teve o apoio de sua família para realizar suas aventuras, mas que também sempre teve de lidar com a desconfiança de outros. “Muitas pessoas acharam loucura, perigoso e até impossível. Desejavam ‘boa sorte’ como se dissessem ‘não vai conseguir’. Outros me botaram o dedo na cara dizendo para não ir”, conta.

– O convencional todo mundo faz. Eu busco algo mais desafiador, que exige mais do corpo, da alma e até do coração. Hoje estou viajando não para contrariar essas pessoas negativas, mas para provar que quando nos unimos em um projeto bom, com uma pessoa disposta, o resultado é este que vimos. O normal é ser louco e viver a sua loucura – resume Trevisol.

 

 

 

 

 

Fonte: Jornal O Alto Uruguai
Fotos
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