É com o alinhamento dos passos somados cadências dos sons dos instrumentos que o coração dos apaixonados pelas apresentações de bandas marciais bate mais forte. Apesar das performances durante todo o ano, é no mês de agosto que os ensaios são intensificados para celebrar a Independência do Brasil em setembro, ditando o ritmo que irá tomar conta das ruas da cidade nas celebrações da pátria.
Flauta, trompete, trombone, saxofone, bumbo e tarol são alguns dos instrumentos que compõem as bandas marciais e que permanecem para sempre na memória de quem vivenciou tantas experiências e emoções com os famosos uniformes, inspirados em fardas militares.
Na região, a tradição de crianças e adolescentes integrarem elencos de bandas é bastante forte, fazendo com que esse legado seja passado de geração em geração. Além dos integrantes, instrumentos e dos uniformes, quem faz tudo isso acontecer são os maestros, professores responsáveis pelo aprendizado dos alunos.
Ensinar a postura correta e as notas que dão vida às músicas são tarefas desenvolvidas por Marcelo Moraes, que atua como maestro principal há 20 anos, mas antes disso já ajudava como auxiliar. Atualmente, o professor está à frente de oito bandas e alguns outros projetos musicais paralelos. Segundo ele, alguns anos atrás percebeu um declínio na procura por essa atividade, devido à revolução tecnológica e a inclusão de novas oficinas culturais e esportivas ofertadas pelas escolas e municípios, mas gradativamente o setor de bandas veio se recuperando. “Com a retomada das atividades, neste pós-pandemia, tem aumentado significativamente o número de novas matrículas de crianças e adolescentes em todas as cidades que atendo. Além disso, os alunos têm se mantido por mais tempo ‘dentro’ das bandas, chegam a participar por mais de 10 anos, e isso não é exceção, tem sido cada vez mais comum”, ressalta.
Outro nome da música bastante conhecido em toda a região é Marcio Pereira, que também atua como maestro há 20 anos e, para ele, as bandas sempre atraíram um bom número de interessados. “No entanto, é notório em diversos municípios um grande aumento dos plantéis após o período pandêmico. A maioria das bandas iniciaram um processo seletivo de componentes, tendo também uma listagem de espera para ingresso de futuro de alunos”, explica.
Importância para o desenvolvimento
As bandas marciais são o orgulho da maioria das cidades, principalmente, nas regiões mais afastadas dos grandes centros, já que carregam consigo o nome do município em cada viagem para apresentação.
No entanto, além de descobrir novos talentos da música, a prática é bastante importante para o desenvolvimento humano. “Com crianças que apresentam traços de hiperatividade ou ansiedade, o ato de aprender a tocar um instrumento pode ser muito benéfico. Toda a aprendizagem instrumental exige muito ensaio, como educador, tento transferir essa ansiedade demonstrada pelo educando musical em foco no ensaio instrumental, canalizando essa energia. Já na questão de hiperatividade e consequentemente a falta de concentração, tenho ouvido vários relatos de pais e professores sobre a mudança perceptível de comportamento de seus filhos e alunos após ingressarem no grupo da banda”, comenta Moraes.
Em relação a isso, Pereira reafirma que os instrumentistas também desenvolvem maior concentração em todas as atividades do cotidiano, já que o contato com a música oportuniza desinibição e enfrentamento de desafios por meio de práticas pré-profissionais, efetivadas pelas frequentes apresentações públicas nos diversos espaços culturais da cidade e região.
Boas lembranças
Thays Londero, foi integrante da Banda Cardeal Roncalli, de FW, desde pequena e passou por vários instrumentos. “Eu amo a banda e continuo acompanhando as atividades. A banda foi uma forma de me conhecer melhor e é um incentivo muito forte, fazemos muitas amizades”, destaca.
Além das recordações presentes na memória de cada pessoa que vivenciou bons momentos no período de atuação em bandas marciais, a evolução musical dos instrumentistas também é motivo de alegria para os maestros. “É muito gratificante. O público vê somente no momento alto, que é a apresentação final, mas eu como maestro, que acompanho o dia a dia da evolução do grupo, presencio o que muitos alunos passam para conseguir fazer parte da banda. É muito recompensador”, destaca Moraes.
Para Pereira não é diferente. Segundo ele, sempre foi e será uma alegria ver os alunos vencendo suas dificuldades e evoluindo a cada ensaio. “Quem participa da banda vivencia algo diferente, intenso e marcante. Estes, em geral, levam boas lembranças para toda a vida. Poder fazer parte da história de cada um ressalta sentimento de orgulho, gratidão e dever cumprido”, finaliza.