A última etapa antes de um novo júri ser marcado no Caso Rafael Mateus Winques, de 11 anos, assassinado em 2020 em Planalto, foi concluída. O Instituto Geral de Perícias (IGP) finalizou a análise no áudio extraído do celular de Rodrigo Winques, pai do menino, e que foi o centro das discussões do julgamento que acabou cancelado em função do abandono do plenário pela defesa da ré Alexandra Dougokenski.
O IGP apontou que o áudio não foi gravado no celular do pai de Rafael, mas que foi encaminhado ao aparelho, podendo, assim, ter sido gerado em outro momento. A perícia não analisou se a voz é ou não do menino e foi um pedido da defesa ao tomar conhecimento do arquivo dias antes do julgamento.
Os advogados de Alexandra afirmavam que o arquivo, com data de extração de 15 de maio de 2020, às 20h33min, teria sido gerado posteriormente ao momento do assassinato de Rafael apontado pela denúncia do Ministério Público, o que gerou o pedido de perícia ainda antes do início do júri, negado pela magistrada Marilene Campagna.
A defesa contratou uma perícia particular que concluiu que a voz seria de Rafael. No último dia 15 de maio, a juíza determinou que uma perícia no arquivo de áudio fosse feita pelo IGP para determinar a hora e a data de criação do arquivo e sua origem. Segundo apurou GZH, o laudo do IGP concluiu que “considerando as informações acerca do áudio (cita o nome), somada a nomenclatura do arquivo e sua localização na estrutura de pastas do dispositivo (cita a pasta) pode-se inferir que o referido arquivo foi encaminhado (e não gerado via gravador de voz do aplicativo WhatsApp)”.
O MP já sustentava que o áudio foi encaminhado ao celular de Rodrigo Winques em função de seu desaparecimento, que naquele momento já havia sido registrado pela mãe, Alexandra.
– É bem importante ressaltar que o laudo de forma bem categórica diz que o áudio, o arquivo, foi encaminhado para o celular do Rodrigo. Não foi gerado via gravador de voz. O resultado reforça o absurdo que foi o adiamento deste julgamento e lisura com que o MP sempre tratou o caso – afirmou para GZH a promotora Michele Dumke Kufner.
Um dos advogados de defesa da ré Alexandra Dougokenski, Jean Severo, afirmou para a reportagem do O Alto Uruguai que ainda está analisando o laudo do IGP, mas que considera que ele foi “muito favorável a defesa”. “Eu conversei com os peritos, os meus peritos particulares, e chegamos à conclusão que esse laudo foi muito favorável a defesa. Não mudamos a nossa estratégia defensiva”, explica Severo.
– O próprio Ministério Público já reconheceu que era a voz do guri. Esse áudio, se foi criado do celular do pai ou encaminhado, para mim é pouco relevante porquê foi [produzido no] dia 15 [de maio de 2020]. Então, dia 15 o guri estava vivo, e aí reforça aquilo que eu já tinha falado, que a denúncia [do MP] está errada – reiterou o advogado.
Com o laudo do IGP concluído, a justiça já analisa uma data para a realização do novo júri, que deve ocorrer ainda neste ano. Nos próximos dias, o Judiciário também irá se manifestar sobre o conteúdo da perícia.
O caso
Alexandra Salete Dougokenski é acusada de cometer homicídio qualificado contrao próprio filho (motivo torpe, motivo fútil, asfixia, dissimulação e recurso que dificultou a defesa), ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual. O menino Rafael Winques foi dado como desaparecido no dia 15 de maio de 2020, em Planalto. Após 10 dias de buscas, seu corpo foi encontrado em uma caixa de papelão, embaixo de retalhos de tecido, na casa ao lado de onde morava com sua mãe, Alexandra Salete Dougokenski. Segundo a acusação do Ministério Público, a mãe do menino teria feito ele consumir dois comprimidos de Diazepam, alegando que a medicação o faria dormir melhor. Por volta das 2 horas do dia 15, Alexandra teria estrangulado Rafael com uma corda, vestido o corpo do menino e o levado até a casa vizinha, local que sabia que estaria vazio, pois os moradores estavam viajando. Inicialmente, Alexandra confessou o crime e indicou o local em que estava o corpo do menino. Durante a investigação, porém, ela negou ser a autora do fato e atribuiu a morte ao ex-marido.