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Artigo do leitor
Alguém aqui já passou fome?
**Os artigos aqui publicados são de sua total responsabilidade e não refletem a opinião do jornal O Alto Uruguai.
Por: Redação
Publicado em: quarta, 29 de junho de 2022 às 14:43h
Atualizado em: quarta, 29 de junho de 2022 às 14:53h

“A pergunta que faço para todos os companheiros aqui, é se alguém aqui já passou fome? Eu espero e acredito que não. Mas não é porque a gente não sente esse problema, que ele de fato não existe. As pessoas estão ficando mais fracas, com menos força, energia e resistência para realizarem suas atividades laborais. As crianças estão ficando subnutridas, apresentando danos fisiológicos e estruturais no seu cérebro. Uma tragédia a conta gotas, dispersa, silenciosa, escondida nas periferias. Tão escondida que o Brasil que come, não enxerga o Brasil que tem fome.
Hoje, a cada 10 famílias, seis não possuem acesso à alimentação plena. Isso representa 125 milhões de brasileiros que precisam diariamente colocar na ponta do lápis formas de como conseguir comida para a semana ou para o mês seguinte. Gente vamos colocar na prática! Uma família com uma renda de R$ 3 mil, vocês acham que pagando aluguel, água, luz, tem como ter uma alimentação plena? Pensem em uma família, duas crianças e mais o casal! Então a gente tem que fazer essa reflexão, por que tá aqui! 59% da população, 60% possui algum grau de deficiência alimentar, e nós conversamos diariamente com essas pessoas. Ou a gente não quer ver, ou não queremos perceber o que está acontecendo na nossa frente. São 33 milhões de pessoas, ou seja, 19% da população com insuficiências alimentar grave! Passam fome! Insuficiências alimentar grave é falta quantitativa de alimentos para as crianças, ou uma ruptura dos padrões de alimentação pela falta de alimento.
Quanto menos a faixa etária da fome, mais repercussões ela vai ter, com prejuízos em longo prazo. Estamos falando de sequelas que levarão para o resto da vida. Nós estamos criando crianças que lá na frente não vão conseguir ser uma mão de obra laboral, não serão estudantes, cidadãos completos e colaborativos com a sociedade – não terão condições, por conta de danos estruturais gravíssimos. Mais de 10 milhões de crianças no Brasil hoje não têm acesso a uma alimentação. Quinze milhões citaram que precisaram adotar estratégias consideradas inaceitáveis ou vergonhosas para adquirir alimentos. Ir em um lixão pedir nas casas, essas questões que impossível que só na minha casa estão batendo e pedindo comida. Regredimos muito nestes dois últimos anos, porque em 2020 eram 19 milhões de brasileiros nessa situação, e hoje, repito, somos 33 milhões. Números pré-pandêmicos que já deveriam acender um sinal de alerta, mas que pioraram coma crise sanitária, econômica e social. Junto com toda essa desgraça temos a dificuldade que as pessoas estão tendo em conseguir alimento. Números reais trazem, por exemplo, o leite ao patamar de R$ 6 a caixinha, a gasolina, hoje, chegou aos R$ 7, que apesar de não ser item da cadeia de alimentos – influencia no valor final de todos os produtos e serviços. E o gás, peça essencial no preparo de alimentos já não cabe no orçamento de tantos. Tivemos uma pandemia, sofremos uma dificuldade em conseguir matéria prima, o preço aumentou pela falta. Lei da oferta e procura! Aumenta o preço o que o Banco Central faz? Dá o gatilho, aumenta os juros. Juros altos, o que acontece? O cidadão que tem um poder e uma situação financeira confortável coloca dinheiro na poupança em um lugar seguro, e a cada dia acorda com mais dinheiro na conta. Essa é uma realidade de quem tem uma situação confortável com reservas. Mas e o cidadão que não tem reserva? 75% da população brasileira.
O que essa parcela da sociedade faz, com uma inflação desenfreada como está? Ele dorme, e no dia seguinte ele acorda com menos poder de compra, porque o produto lá aumentou. Aquele dinheiro que ele tinha já não é mais o suficiente pra conseguir comer. Nós precisamos resolver esse problema, mas como? Há longo prazo? Precisamos enxugar a máquina pública? Fazer as reformas da previdência, da tributária? Eu acredito que a curto prazo, nós precisamos hoje desonerar a folha do cidadão. Como fazemos isso? Hoje quem tem o contracheque aqui pega, olha e vê que ganhou R$2,5 mil! Desconta isso e aquilo, chega no final, mil e poucos reais. Essa é a realidade hoje. A nossa folha está muito onerosa para a população. Faz um projeto algo, que inclusive estava tramitando no Congresso Nacional, um projeto para desonerar a folha, que não se fala mais. Sumiu! Mas é uma medida urgente, porque faz com que a população volte a ter poder de compra. Ir lá comprar os produtos para o seu cumprimento, aí sim gerar novos impostos, devolvendo o dinheiro para o governo de outra forma. Precisamos encontrar alguma solução rápida, urgente e imediata. Vindo para a nossa região, já sabemos que a entrega de cestas básicas por parte do município de Farroupilha aumentou seis vezes nos últimos quatro anos, ou seja, há seis vezes mais famílias em situação de vulnerabilidade. E fome não dá ânimo, não dá energia para trabalhar. Campanhas, doações políticas paliativas existem. Cito a distribuição dos alimentos excedentes de restaurantes a entidades e famílias carentes, cito a troca de lixo reciclável por frutas e verduras realizada pelo vizinho, Caxias do Sul, entre tantos outros; mas também vejo, e cada vez mais frequente, pessoas buscando nos contêineres comida para sua fome. Dentro da minha luta e bandeira por um ecossistema mais sustentável e saudável ao cidadão, não posso separar o tema fome de sustentabilidade. Desta forma, cito a AGENDA 20/30 da ONU, a qual elenca 17 itens a serem erradicado, até 2033. Um deles, o segundo apresentado é "Fome Zero". E digo por que deve ser a prioridade de atuação dos governos: porque sem fome aumentamos a chance de erradicar a pobreza, ofereceremos boa saúde, educação, emprego digno; reduziremos a desigualdade e criaremos consumidores responsáveis. Por isso, questiono sobre o estamos fazendo, como agentes públicos, que somos, reduzir a fome em nossa cidade? Nós precisamos resolver esse problema. Precisamos enxugar a máquina pública, seguir com as reformas da previdência e tributária, e principalmente, nós precisamos desonerar a folha do cidadão. É uma medida urgente, porque faz com que a população volte a ter poder de compra e adquirir os produtos para a sua alimentação. Precisamos de hortas e restaurantes comunitários. Comida mais barata, ao alcance de todos. Precisamos encontrar alguma solução rápida, urgente e imediata. As pessoas precisam comer! 
 

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Fonte: Jornal O Alto Uruguai
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