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Futebol feminino
Unidas por um sonho
Com atletas da região, Gurias do Yucumã viram destaque estadual e se preparam para estreia nacional
Por: Douglas Cavalini
Publicado em: segunda, 30 de maio de 2022 às 09:41h
Atualizado em: segunda, 30 de maio de 2022 às 09:47h

A frase “fazer futebol no interior é muito difícil” é repetida com certa frequência por dirigentes das equipes que buscam sobreviver no cenário gaúcho. Se a dificuldade já é grande na modalidade masculina, para as mulheres a missão é quase impossível. Mas o desafio não assusta as Gurias do Yucumã. Na verdade, vira mais uma motivação para seguirem superando obstáculos.

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E foi assim que a equipe surgiu, em 2020, em Tenente Portela. Com o empenho do professor Ildo Scapini, que fundou o time em parceria com o Flamengo, time do município, as primeiras peneiras foram realizadas para montar o elenco. E não faltaram interessadas.

Cerca de 145 jogadoras participaram dos testes, que foram realizados, inclusive, na área indígena do Guarita. Mesmo com treinos apenas uma vez por semana e atletas que trabalham e estudam, além de terem de viajar quilômetros e quilômetros para estarem presentes nas atividades, o sonho continuou crescendo. 

Em 2021, as Gurias do Yucumã, em sua primeira competição profissional, no Gauchão Feminino, participaram da disputa do terceiro lugar do torneio. A partida, fora de casa diante do Brasil de Farroupilha, valia também o título de campeão do interior, e uma vaga no Brasileirão Série A3 – competição com times de todo o país. 

Após um empate em 1 a 1, as gurias foram campeãs nos pênaltis e fizeram história. “Eu fiquei impressionada”, conta Ana Turquetto, a Aninha. Natural de Taquaruçu do Sul, ela faz parte do time desde fevereiro de 2021. “Pensei que não iriam muitas meninas no teste, mas quando cheguei lá, tinha mais de 70, e de diversas cidades, tanto do RS, como de Santa Catarina”, relembra ao contar como foi a peneira. “A motivação delas, algumas saíam 8, 9, horas para chegar às 14 horas para treinar todo sábado, isso servia de motivação para se doar ainda mais nos treinamentos”, conta Aninha.

Mas as dificuldades não são só as viagens. “É dar conta de tudo”, assegura Laine Vaz da Silva. Também de Taquaruçu do Sul, a atleta tem experiência também no futsal, modalidade em que acumula títulos estaduais. “Conciliar trabalho, estudo e a parte de ser atleta. Isso envolve tu deixar a família e as pessoas que ama nos fins de semana, abdicar de momentos de festa, lazer. A gente sabe da importância do treinamento, do foco, ainda mais esse ano com o acesso ao Brasileiro”, destaca.

A paixão pelo futebol vem desde cedo. Recém-promovida para o time principal, a frederiquense Stefany Souza comemora a oportunidade. “Nunca imaginei que nossa região iria pensar no futebol feminino com tanto amor, tendo agora a oportunidade de disputar campeonatos tão grandes, que podem me dar muitas oportunidades, fico muito feliz”, diz a atleta.

A diversidade cultural das Gurias do Yucumã também é motivo de felicidade para as atletas. “O sentimento é incrível. Hoje, o futebol e o futsal feminino nos trazem isso em cada equipe que jogamos”, relata Claudia Kurek, que é natural de Vicente Dutra e há anos se “desdobra” para manter a carreira profissional junto a de atleta. “Sempre há uma diversidade de etnias e costumes diferentes. Isso nos mostra igualdade em tudo, e para a sociedade é muito bom, pois não existem diferenças. Para nós, a soma dessas vontades é importante”, diz a goleira que também conta que às vezes abre mão de fazer refeições para chegar a tempo nos treinos depois do trabalho.

As gurias, que não recebem salários, seguem se preparando para disputar o Gauchão em 2022 e a série A3 do Campeonato Brasileiro. Com apenas um encontro na semana, as atletas treinam individualmente ao longo dos outros dias. “Treinamos todos os sábados e durante a semana cada atleta treina em sua cidade”, explica Carla Dalla Cort, de Erval Seco. “O maior desafio é não conseguir treinar mais vezes”, admite a atleta que, no futsal, já disputou a Copa do Brasil e a Taça Brasil da modalidade.

Apesar das inúmeras dificuldades, todas elas compartilham o mesmo sentimento. “É um orgulho; fazer parte dessa história é gratificante. Cada um contribui para o crescimento do clube. Com muito orgulho posso falar que sou atleta do Gurias do Yucumã”, resume Claudia.
 

Fonte: Jornal O Alto Uruguai.
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