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Sustentabilidade
“Do lixo eu comecei a fazer o luxo”
Após perder mobilidade da coluna, agricultor de Palmitinho encontra no artesanato em madeira uma nova ferramenta de trabalho e sobrevivência
Por: Gustavo Menegusso
Publicado em: quinta, 06 de maio de 2021 às 13:54h
Atualizado em: quinta, 06 de maio de 2021 às 14:16h

Em tempos de pandemia, um dos maiores desafios para os profissionais de todas as áreas é a necessidade de se reinventar. Com o agricultor de Palmitinho, Ayres Trentin, não foi diferente, porém a exigência por uma mudança na sua vida foi decorrente do que ele considera um acidente de percurso. “Sou natural da linha Santos Anjos, em Frederico Westphalen. Era agricultor, de uma família humilde, mãe viúva, que sempre sobreviveu do trabalho na roça. Depois saí para constituir uma família ao lado da esposa Claudete. Fomos trabalhar em uma fazenda em Minas Gerais, conseguimos juntar um dinheiro e retornamos para o Sul, onde conseguimos comprar uma terra na linha Braguinha, em Palmitinho. Aqui trabalhamos com plantação de tabaco e vacas de leite até que há uns seis anos acabei perdendo a mobilidade da coluna em razão de esforço repetitivo. Precisei caminhar dois anos com a ajuda de muletas, fiz fisioterapia, mas não tinha mais condições de continuar trabalhando na lavoura. Foi aí que parti para o artesanato”, conta Trentin.

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A realização de um sonho
Trabalhar com madeira sempre foi um sonho do frederiquense, que ainda não tinha sido possível de ser colocado em prática. No entanto, executá-lo não era apenas um hobby, mas uma questão de sobrevivência. “Não somos aposentados ainda, então não tinha escolha. Quando você está se afogando, a gente aprende a nadar. Eu sempre gostei de lidar com madeira, só que na vida de agricultor eu aprendi a trabalhar na lavoura, sabia lidar com plantas e animais, até que o destino quis e me desafiei no artesanato em madeira. Produzi as minhas primeiras peças, umas gamelas, consegui vendê-las, e comecei a montar meu ateliê”, afirma.
Com pouco estudo – Trentin estudou até o terceiro ano do ensino fundamental –, mas com talento e muita vontade, o artesão agora consegue sobreviver apenas com a venda das suas peças, que são as mais variadas possíveis. Além das gamelas, que servem para temperar ou servir a carne, ele produz cuias, petisqueiras, copos de caipira de vários estilos, tigelas, artigos para presentes, tábuas de carne, espátulas, talheres, porta-cuias, esculturas, e várias outras utilidades. “Faço até brinquedos, como aqueles cachorrinhos mecânicos, que fizeram parte da infância de muitas crianças”, detalha.

Artesanato em madeira reciclável
Um dos diferenciais do trabalho de Trentin é a preocupação com o meio ambiente. Por isso, todos os materiais utilizados para a confecção das peças são recicláveis. “Eu aproveito tudo, nada vai fora. Qualquer pedacinho de madeira que iria para o fogo eu utilizo. Vou atrás de qualquer aproveitamento, qualquer descarte de um móvel velho, tudo é aproveitado, plainado, colado e dado um acabamento. Do lixo, eu faço virar um luxo”, destaca.
Até para dar o acabamento nas peças, o artesão utiliza o que a natureza oferece. “O que tem dentro do lixo é impressionante e você tem que também descobrir o que a natureza te dá. A cera da abelha, por exemplo, não existe o que dá mais brilho que ela. Uso também óleo de girassol para ajudar a impermeabilizar a madeira”, explica.
Além da matéria-prima reciclável, Trentin criou suas próprias máquinas. “A minha lixadeira foi montada a partir de um eixo de um ventilador de uma trilhadeira velha e um motorzinho de uma máquina de lavar roupa que ia para o lixo. Os formões eu fiz com molas e aços que juntei no ferro velho. Já as prensas foram feitas com correntes de moto e parafusos”, cita.

Serragem vira adubo para as plantas
Como nada vai fora na propriedade de Trentin, até a serragem que sobra das madeiras trabalhadas tem um destino. “Você sabendo trabalhar não se perde nada. Utilizamos a serragem para fazer compostagem e tudo vira um adubo de excelente qualidade para a horta”, comenta Claudete, que também ajuda o esposo em alguns trabalhos. 

De Palmitinho para o mundo
Os produtos de Trentin já são conhecidos em todo o Estado, pois o artesão, ao lado da esposa, já participou de várias feiras na região, como a Expofred, em FW, a Expopedras, em Ametista do Sul, e a Expodireto, em Não-Me-Toque. Hoje, em virtude da pandemia, a principal vitrine é as redes sociais. Por meio de seu perfil no Facebook, o frederiquense divulga seu trabalho para vários grupos em todo o país e no mundo. “Achava que não íamos ter o que comer, mas deu tudo certo e está cada vez melhor”, enaltece Claudete. “A pessoa tem que ter vontade de fazer as coisas e tem que se dedicar. Aquele imediatismo de você ganhar dinheiro rápido é ilusão, você primeiro tem que preparar o terreno para depois plantar e colher. O negócio de não querer preparar a terra e só colher não vai dar certo. Devagar se vai ao longe”, finaliza Trentin. 
Interessados em conhecer mais do trabalho do artesão podem entrar em contato pelo número (55) 9.9646-2862.
 

Fonte: Jornal O Alto Uruguai
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