Cada vez mais, as mulheres têm conquistado postos de trabalho que, até pouco tempo, eram exercidos só pelos homens. Muito além do clichê de que elas podem fazer o que quiserem e se quiserem, essas conquistas são importantes também para incentivar que todas possam buscar realizar os sonhos que as motivam.
A história profissional da major Nedia Debora de Avila Giacomini na Brigada Militar que, no mês de janeiro de 2024, assumiu mais uma vez o comando interino do 37º Batalhão de Polícia Militar (37º BPM), começou em 2003, em Passo Fundo, após ser aprovada no processo seletivo para realizar o curso de formação policial militar, composto por prova intelectual, exame de saúde, prova física, psicotécnico e psicológico.
– No período de formação, que dura em média nove meses após período de avaliação e treinamento, fui classificada em Iraí, meu primeiro local de trabalho, e após fui transferida para Frederico Westphalen. Em 2012, depois de concluir a graduação em Direito prestei concurso para o cargo de capitã, iniciando a trajetória na carreira de nível superior da Brigada Militar – conta a major Nedia.
Superando as próprias limitações
Se engana, no entanto, aqueles que pensam ser fácil a caminhada. Primeiro, porque passar no processo seletivo e em todas as etapas do curso de policial militar é algo bastante complexo e, em segundo, porque foi necessário um exercício diário de superação até o momento atual. E essas são exigências que dependem, exclusivamente, da própria pessoa, seja ela homem ou mulher.
– Em 2003, senti maior dificuldade quanto à quebra de paradigmas, exercício diário de superação e dedicação à profissão policial militar. Todas as conquistas foram frutos de muito trabalho e estudo. Todas as vagas são disputadas de igual forma entre homens entre mulheres, o que, ao meu ver, nos coloca em igualdade. Ser mulher, em qualquer profissão, entendo ser um exercício diário de muito trabalho para demonstrar capacidade e excelência. É um descobrir-se diariamente e ver que nossa força, coragem e determinação não se limitam ao que reconhecemos em nós, sempre vamos além – pondera.
Ao longo do tempo, o apoio da família também foi fundamental. “No ano de 2003, era tudo muito novo para todos em um caminho a ser desbravado e conhecido. Com passar do tempo, foi sendo algo normal como qualquer outra profissão. Hoje, meu esposo, Vilnei Giacomini, é o maior entusiasta e apoiador no exercício da profissão que escolhi com 19 anos”, compartilha.
Currículo
De 2003 até agora, a major Nedia já realizou os cursos militares Básico de Formação Policial Militar – CBFPM (2003), Curso Superior de Polícia Militar (2014), Especialização em Operações em Inteligência Policial (2018), Curso e Instrutor de Resistência às Drogas e à Violência (2019), Curso de Instrutor de Tiro (2022), Curso de Instrutor de Saúde Física (2023), Especialização em Gerenciamento de Crise (2023), Curso Avançado de Administração Policial Militar (2022) e, atualmente, é mestranda em Ciências Militares APM/BM (2023-2025). Já de cursos civis é Bacharel em Direito (2012), Especialista em Direito Criminal – URI (2019), pós-graduada em Direito Penal e Processual Militar (2021) e mestre em Educação – URI (2021).
Toda essa trajetória consolida a decisão de escolher a carreira militar. “Vou utilizar uma forma célebre no meio policial militar para traduzir o sentimento de pertencimento quanto à escolha: ‘A farda não é uma veste que se despe com facilidade e até com indiferença, mas uma outra pele, que adere à própria alma, irreversivelmente para sempre’. Assim, não escolheria outra para iniciar minha fase adulta e me conhecer como ser humano. Essa profissão nos transforma, nos modifica e nos move, não seremos iguais à forma como ingressamos e nenhum dia é como o outro”, garante a oficial.
Por fim, a mensagem deixada pela major Nedia é de que as pessoas tenham coragem e que encontrem a força necessária para manter o foco nas suas próprias decisões. “Não será mais fácil ou menos difícil porque nos achamos merecedores de algo. O processo nem sempre será o mesmo para todos. Nem sempre serão justos conosco. Nem todos torcerão e acreditarão em nós. Nenhuma decepção, desilusão ou obstáculo deverá ser norteador de uma decisão. O que precisamos para encontrar o que Deus tem nos reservado estará dentro de nós, nas nossas escolhas diárias”, finaliza.