Simplicidade
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terça, 13 de setembro de 2022

Que saudade da simplicidade. E como ela anda em falta. Volta e meia a gente se esbarra por aí, mas nitidamente ela vem se fazendo menos presente, de férias, em licença-maternidade, de laudo. Faz tempo que a simplicidade anda em baixa.

Comecemos pelos atendimentos de WhatsApp. Atualmente é raro uma empresa não ter esse canal de atendimento. O problema é que várias delas “contratam” robôs. Você digita 1 para isso, 2 para aquilo e o coitado responde que não está entendendo o que você quer dizer. Até que se consegue, mas em alguns casos o sofrimento é grande.

E os cumprimentos de aniversário? Antigamente o contato direto era mais quente, tinha o abraço mais frequente, um telefonema e, se bobear, o(a) aniversariante até passava vergonha recebendo visita do carro de mensagens em seu local de trabalho. Hoje são aqueles parabéns copiados e colados no grupo do Whats e fica por isso.

Parece que a cada dia que passa a simplicidade vai perdendo força. O futebol também entra nesse bolo. No passado o jogador colocava camisa, calção e meião e “ia para o estouro”. Hoje o atleta corta parte da meia (possivelmente o Neymar fez isso e todo mundo achou o máximo), fazem um furo na blusa térmica colocando o polegar para segurar a manga e por aí a banda passa.

E dentro de campo a parte simples também está ficando de lado. No tiro de meta os caras querem sair jogando, o ataque adversário aperta e lá vem balão. Por que não cobrar como antigamente, então? E nas cobranças de falta já inventaram um jogador para ficar deitado atrás da barreira por medo de aparecer um novo Ronaldinho Gaúcho para fazer o que só ele sabia fazer.

Daqui uns dias, não se surpreendam, teremos jogada ensaiada em cobrança de pênalti. Não sei se você sabe, mas a cobrança pode ser feita em mais do que um toque na bola. Mais ou menos assim: o craque do time parte para a cobrança, rola a bola para a frente e na sequência o beque central, de forma já combinada, vem “a milhão” e solta a bicuda. Se não proibirem a bicuda, no caso.

A vida anda tão corrida que a simplicidade, uma das coisas mais bonitas já inventadas, está sendo sobreposta pela modernidade, pelo prático, tudo no sentido de agilizar justamente a própria correria. Eu agradeceria se muita coisa voltasse a ser como antes. Começando por mandar o cara que fica atrás da barreira, deitado, levantar. E que, assim, o cobrador coloque a bola na gaveta, como o Zico fazia. Seria perfeito.

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