Para o eleitor a infidelidade partidária é normal
**Os textos aqui publicados são de total responsabilidade de seus autores, e não refletem a opinião do jornal O Alto Uruguai
quarta, 31 de agosto de 2022

No passado, não muito distante, quando os políticos mudavam de partido, se preocupavam em serem taxados como infiéis e corriam para dar uma explicação ou contar uma história triste. Inclusive, em alguns casos, os eleitores não perdoavam os políticos que pulavam de “galho em galho”.
    O troca-troca de partidos ficou tão comum, mas tão comum, que a justiça eleitoral até criou a chamada “janela partidária” para acomodar as mudanças ocorridas. E no período autorizado por lei os políticos ficam procurando o partido que oferece as “melhores condições” para sua adesão. Segundo o TSE, mais de três mil candidatos que concorreram nas eleições de 2018 estão com outro partido nesta eleição.
    As pesquisas qualitativas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião têm avaliado profundamente a percepção do eleitor sobre fidelidade partidária. Os estudos mostram que, atualmente, a maioria dos eleitores não se incomoda com a mudança partidária. Mudar de partido é visto como algo natural, que faz parte do jogo da política.
    Desde a abertura democrática, o eleitor vem com um “pé atrás” com os partidos políticos. A experiência democrática dos últimos anos foi reforçando a desconfiança com os partidos políticos, estabelecendo a ideia de que o fisiologismo, a maracutaia, a negociação por cargos e até mesmo a corrupção fazem parte do DNA dos partidos políticos. 
    Os eleitores fazem um raciocínio simplista para perdoar a infidelidade partidária. “Se a população não confia nos partidos políticos, tanto faz o partido que o candidato está”. Avaliam os partidos mais pelas pessoas que os integram do que por seus ideais. Inclusive, desconhecem a diferença programática entre a maioria dos partidos.
    Quase metade da população não tem ideologia partidária, não se classifica nem como de direita, nem de centro e nem de esquerda. Para esses eleitores, os partidos não trazem vantagens, não são responsáveis por nenhuma mudança significativa em sua realidade social. 
    Nesta conjuntura, a confiança do eleitor é depositada na pessoa do candidato, no personalismo do político, em suas propostas ou na sua capacidade de retórica. Um exemplo comum dado pelos eleitores é o caso de Bolsonaro, que desde que começou a sua vida política, já passou por oito partidos políticos. Para os eleitores de Bolsonaro, tanto faz o partido em que ele está.
    Voltando ao ponto inicial, em como a democracia foi pensada e o sistema político brasileiro organizado, os partidos são e devem ser peças fundamentais da decisão, a essência da disputa política. Por princípio, deveríamos conhecer os candidatos pelos partidos que representam. As ideias dos candidatos deveriam ser um espelho dos ideais partidários. 
Tanto é que quando votamos em um vereador ou em um deputado, no atual sistema proporcional, estamos definindo o número de cadeiras que o partido desse candidato irá ter no legislativo. Os votos são computados para a legenda partidária.
É um debate complexo, “o que deveria ser, não o é” em função do ciclo vicioso estabelecido pelo próprio sistema partidário. A estratégia da eleição é baseada na pessoa do candidato e os partidos gastam mais tempo procurando nomes competitivos do que se preocupando com o fortalecimento de seu propósito e o restabelecimento dos elos de confiança com o eleitor.
 

Fonte: