Praticamente todas as localidades, grandes, médias ou pequenas, possuem o seu santo padroeiro, cujo aniversário é celebrado com pompa e festa pela comunidade. Restrinjo-me particularmente à Paróquia de Santo Antônio em Frederico Westphalen, onde moro, mas cujas características, mutatis mutandis, são semelhantes em todo o lugar. A festa é sempre antecedida de novena para alavancar a espiritualidade e jogar um pouco mais de fervor, pois o povo já anda um pouco acomodado. Ainda me lembro, na minha infância em Taquaruçu, quando os pais nos obrigavam ao comparecimento da novena. Íamos de muito bom grado, pois no final das cerimônias, os festeiros soltavam uns fogos de artifício, de brilhantes estrelinhas, um legítimo orgasmo pirotécnico. Do Evangelho, Epístola e Sermão a gente não se lembrava, mas aquele momento do foguetório era uma loucura de encantamento.
No dia da festa, o padroeiro era carregado em procissão, em cima de um andor cuidadosamente enfeitado pelas piedosas mulheres. Na frente, iam os coroinhas espargindo pétalas de flores, um autêntico tapete vermelho para a santa autoridade. O trajeto era delimitado com ramos de laranjeira do mato e os locais de jogos e refeição cobertos com folhas de palmeira, pois a comunidade não era rica, não dispunha dos atuais salões paroquiais. Se chovia, a frustração cobria toda a vila.
As lideranças do lugar, capitaneadas pelo FABRIQUEIRO, se esmeravam em todos os detalhes. Um batalhão ficava encarregado da copa e cozinha. Outro cuidava do assunto religioso com cantos, leituras, altar e enfeites no andor do santo. A equipe dos churrasqueiros era a mais cobrada, pois se a carne não estivesse macia e no ponto, ouviam xingamentos o ano inteiro. E lá iam eles, desde a madrugada, esquartejando os bois com suas afiadas peixeiras. O fogo crepitava na churrasqueira, assando mais o rosto dos assadores do que a carne do boi. Neste ano, o churrasco ficou a cargo do pessoal do Fátima. Tanto se esmerou na organização que merece rasgados elogios.
Neste 2025, a Paróquia de Santo Antônio se dedicou ao canônico trabalho com especial carinho. As menininhas aureoladas com coroa de flores e os menininhos, vestidos “a la” Santo Antônio deram um toque encantador na novena. As famosas noitadas foram um sucesso de congraçamento e de finanças. Pinhões, pipocas, amendoim, sobremesas, pastéis – tudo regado a um crepitoso quentão, pois o frio da estação também tinha que se intrometer. No final dos festejos, semana seguinte, o ‘fabriqueiro’, hoje denominado coordenador, após a missa, trará o balanço financeiro, chamado capciosamente de Reza de Contas. Orgulhosamente exibirá o resultado, como se fosse um Ministro da Fazenda. Em inúmeras localidades, onde o dízimo anda é meio capenga, o lucro da festa é a garantia econômica da paróquia.
É de se exaltar todo aquele pessoal que generosa e gratuitamente se doa pelo sucesso da festa. Ousaria dizer que, quando na outra vida, comparecerem perante São Pedro, para avaliação da sua existência na terra, o respectivo padroeiro gritará: “Pedrinho, pode deixar passar. Este eu tenho aqui na minha caderneta”. E São Pedro murmurará: “Que vou fazer. São ordens do Pai Eterno. Mais um do time do Santo Antônio”...
