Nós, a paróquia e toda a diocese, acabamos de vivenciar a Semana Santa. Não se pode deixar de elogiar o bispo e todo o clero pela excelente preparação e realização. Os atos litúrgicos, as cerimônias, as brilhantes e didáticas homilias e, principalmente, a participação do povo – tudo foi aprovado com nota dez. Aliás, chamou a atenção a lotação da catedral, sempre em grau máximo. O Battistella, quando ergueu este templo, foi criticado pelo tamanho, pois o número de paroquianos era apenas de seis mil. Agora o espaço foi insuficiente. Constatam-se mais pessoas se achegando a Deus.
Gosto de reprisar alguns detalhes. Na Missa de 3ª feira, em que todos os participantes receberam a Unção dos Enfermos, além de não haver mais lugar nos bancos para aqueles ‘jovens’ todos, respirava-se um sentimento de paz e tranquilidade. Tenho certeza que, se alguém morresse naquele momento, não haveria nem lágrimas nem dor, pois se vivia uma segurança que aquela pessoa acabava de ingressar no paraíso.
Ponto culminante foram as CONFISSÕES. Os sacerdotes finalmente se conscientizaram que tem de dar mais espaço ao 4º Sacramento. O Cristo já desafiou “quem não tem pecado atire a primeira pedra”. E o que se observou: TODOS saíram de fininho, esgueirando-se silenciosamente. Nós estamos marcados pela concupiscência, a atração para o mal. Cientes que a sujeira emporcalhou o organismo, sentimos necessidade de limpeza. Temos contas a acertar com o Deus da Misericórdia. E se não nos é oferecida a oportunidade, o comodismo nos empurra para o “dolce far niente”.
Nas confissões gerais, com vários padres à disposição, com água e sabão, para a higiene total da alma, observo discretamente a ida e a volta do cristão do confessionário. Na ida vai de cabeça baixa, na volta vem aliviado, pois os débitos foram apagados. Alguém me falou, na saída da igreja: “Descarreguei uns dez quilos”!
Na 4ª feira, dia da bênção dos Óleos Santos, os padres renovam sua promessa de obediência ao bispo. Quando ordenados, após o ‘promito vobis ad aeternitatem’ recebem o ósculo do bispo. Na 5ª feira, renova-se a cerimônia do Lava-Pés. Neste ato, o bispo lava e beija os pés de 12 cidadãos. Este sublime ato de humildade que Cristo realizou, recorda que na Antiguidade, quem lavava os pés eram os escravos, tanto que Pedro se recusara. Na Sexta Feira Santa, o celebrante se deita no chão, simbolizando o Cristo que se despedaça, esmagado pelo sofrimento dos nossos pecados. E no Sábado Santo, o Cristo entra na igreja, materializado no Círio Pascal. As luzes são apagadas e os fiéis acendem as velas, tirando a luz do Círio, que vem espancar as trevas, lembrando a escuridão dos nossos pecados, agora dissipada pela Luz do Cristo. Desafio qualquer outra religião que possua tal significado na rica liturgia, qual o Cristianismo.
Lembro este episódio do Cura d’Ars: O pobrezinho era bastante ignorante que o bispo ficou em dúvida para ordená-lo. O reitor, em favor do candidato, comentou que “ele era muito piedoso”. Ao que o bispo respondeu: “Então vou ordená-lo, mas não poderá ouvir confissões, porque não tem condições intelectuais para orientar os fiéis”. O final se conhece: São João Maria Vianney passou a existência no confessionário. Eram tantas as pessoas que corriam pedir-lhe a absolvição que o governo teve de construir um ramal ferroviário para a vilazinha de Ars. Pois este Santo Pároco dizia: “Se alguém conseguisse abrir a porta do inferno e gritar para os condenados lá dentro, que aqui fora estava um padre para confessá-los, o inferno ficaria vazio”.
