Lula: da expectativa à frustração
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terça, 21 de janeiro de 2025

No meu último artigo analisei dados de pesquisas nacionais sobre a avaliação do governo Lula, que indicavam uma queda da popularidade do presidente entre a população de menor renda, seu principal reduto eleitoral.
    No RS, as pesquisas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião também confirmam esta tendência. Eleitores com renda entre R$ 2 e 5 mil reais são os mais preocupados e frustrados, e o principal gatilho é a economia. Estes eleitores esperavam que o governo Lula diminuísse o custo de vida, controlasse a inflação e aumentasse as faixas da tabela do imposto de renda, desonerando a grande massa da população que trabalha para sua subsistência básica. Para os entrevistados, Lula reprometeu a promessa, dizendo que até o fim do seu governo irá cumprir a proposta de isenção para o trabalhador que ganha até R$ 5.000,00 mil reais por mês.
    Depois da economia, as outras áreas também não avançaram e indignaram os eleitores. Entre eles a precarização da saúde no país, especialmente na média e alta complexidade, com grandes filas de espera para cirurgias, dificuldades de acesso à exames especializados e a especialistas e também a judicialização da saúde para se conseguir medicações específicas.
A maioria dos eleitores não têm a informação de que a saúde é responsabilidade primária e secundária dos municípios e do governo do Estado, respectivamente. O que os eleitores sabem, é que desde a pandemia o sistema se tornou ainda mais moroso e mais burocratizado. Esperavam que o governo Lula normatizasse novos protocolos para impor mais agilidade ao sistema e investisse em políticas públicas voltadas para área da saúde, o que não aconteceu. 
    Neste mês, o governo Lula sinalizou a criação de um programa de acesso a especialistas. A iniciativa daria mais agilidade às consultas com especialistas, incluindo a marcação de consultas pelo celular. Como o eleitor mostra desesperança, está entrando no modo decepção: “precisa ver para crer”.
    Poderia falar da preocupação do eleitor com outros temas como educação, segurança pública, gestão do impacto do clima no Brasil e da sensação de que o governo não tem políticas públicas estruturadas para cada área, mostrando que vai atendendo às pautas conforme as crises.
    Contudo, deve ser observado que esta frustração não significa rejeição. O eleitor brasileiro não tem votado em um candidato de sua preferência, o voto tem sido por exclusão, em que o eleitor destina o voto ao “menos ruim”. Significa dizer que o eleitor decepcionado, que votou em Lula em 2022, pode manter o seu voto em 2026 se houver uma polarização política com um candidato bolsonarista radical. 
E, neste contexto, é ativado um elemento secundário na decisão do voto, que é o comportamento do eleitor na escala de valores morais e sociais, o voto ideológico. Em média, ¼ da população se considera mais liberal e outra parcela igual, mais conservadora. Na prática, a maioria se autoclassifica como tradicional, um meio termo entre os dois polos. Mas quando os candidatos mais competitivos são de extremos políticos, de esquerda e direita, os eleitores acabam escolhendo um lado da régua de valores sociais e morais e, por consequência, um candidato mais próximo a este posicionamento. 
    Esse fenômeno é muito confortável para cada um dos extremos, que podem se preocupar mais com a política ideológica e menos com um projeto de desenvolvimento econômico, social e ambiental do país. Por isso que o eleitor sonha com um candidato de centro!

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