O silêncio das palavras
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sexta, 16 de fevereiro de 2024

O silêncio das palavras às vezes assusta assim como a ausência do verbo e, normalmente ficamos silentes quando a razão se rende à emoção, seja por alegrias ou infortúnios. A razão disso é que nossa cultura costuma ensejar o uso do aparelho fonador como principal meio de expressão e na ausência dele, os gestos ou o próprio silêncio causam certo estranhamento.
Apesar da palavra ser o meio mais conhecido de se comunicar, o mundo do silêncio – que se opõe aos ruídos -, muitas vezes se sobrepõe a tudo o que poderia ser verbalizado. 
A mítica em torno do ato de silenciar remonta a mitologia grega por conta de “Harpócrates” (o deus do silêncio) ou na representação egípcia “Hórus”, simbolizando o sol recém-nascido que surge todo dia ao amanhecer. Nessa linha de pensamento é que se estabelece a identificação do silêncio com a morte e o caos, sendo o ruído em torno dessa dualidade, a expressão de vida, de movimento e de reação. Cage faz uma relação direta do silêncio com a morte quando afirma “até morrermos existirão sons”, como se o depois já não fizesse mais parte da história. 
O fato é que o homem teme a ausência de ruído (vida) e, por conta disso, por vezes despreza silêncios que falam em gestos, escritas, olhares e abraços. Quintana ao refletir sobre o assunto, comentou que o silêncio dos poetas “subjaz a quaisquer escapes (...) declamatórios” sendo o silêncio, um certo elo de ligação entre o escritor e o leitor, “Este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês”. 
Na verdade, o silêncio deve ser entendido como um grande professor, parafraseando Khalil Gibran ao se referir que aprendemos o silêncio com os faladores, assim como também é possível compreender o silêncio como um grande semeador da paz quando ficamos apopléticos diante de uma injúria ou, quando usamos o silêncio como o melhor apoio que podemos dar a alguém, para algo que não tem palavras que consolem. 
O difícil ato de silenciar envolve grandes doses de tolerância e paciência, sendo um sinal de maturidade, serenar em cenários de destemperanças e rivalidades. 
Bons Ventos! Namastê
 

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