A juventude que está crescendo em uma sociedade que não confia nas instituições, tem desenvolvido uma “politização desinstitucionalizada”. Estes jovens não acreditam nos partidos, não se motivam com sindicatos, associações e nem mesmo com o movimento estudantil. Negam a política tradicional, que é classificada como algo corrompido, burocrático, oportunista e intimidador.
A geração Z, que são os primeiros nativos digitais, não se sente representada pelos atuais mandatários da ordem política vigente e rejeita o sistema por não se identificar com as ideias, por não encontrar guarida ou ter um acolhimento que motive um sentimento de pertencimento. Lembrando que a grande maioria dessa “galera” não recebeu educação para cidadania política em sua jornada escolar e alguns estão à mercê dos influenciadores digitais que filtram ou direcionam as informações.
Os jovens, especialmente os ativistas digitais, se envolvem com causas políticas, defendem pautas específicas como preservação do meio ambiente, empoderamento feminino, combate à desigualdade racial, ajuda a animais abandonados, a expressão de sua identidade pessoal, etc. Muitos destes jovens se autoclassificam ideologicamente (tanto de esquerda quanto de direita) e outros afirmam não ter uma ideologia definida.
Por consequência, a intenção de voto de muitos destes jovens está associada às “causas nichadas”. Fazem um voto segmentado em um candidato que mais se destaque dentro da tendência ou do debate de sua bolha ou ainda próximo aos seus valores pessoais.
A grande maioria destes jovens está conectada, se informam por mídias digitais e estão cada vez mais seletivos, personalizando as fontes de informação que passam em sua timeline ou pesquisando assuntos em portais da imprensa tradicional, quando necessitam de atualização.
Resumem e julgam o mundo por manchetes, fotos e vídeos. Não gastam muito tempo lendo grandes textos. Como há muita informação, cada vez mais avaliam o mundo com base na opinião exposta e não no fato em si, através de um rápido consumo de informação, pela influência de um toque ou de um algoritmo.
O mundo político avaliado nos “tempos de tela”, em especial pela lupa do Twitter, é um mundo com pouco diálogo e reflexão, onde a disputa radicalizada tende a sepultar a construção de consensos e impor a cultura do cancelamento.
O jovem que não é adepto ao ativismo digital se limita a observar os movimentos, tem receio do cancelamento, do massacre em público ou de um ataque de haters (que são as pessoas que postam comentários de ódio ou de crítica sem muito critério).
Alguns acreditam que a política é uma guerra, na qual o debate visa a desqualificação do outro e que o melhor é se manter longe da política para manter a boa relação com os amigos.
Os pré-candidatos tradicionais terão que se reinventar para se manterem conectados às novas gerações. Além da familiaridade com o mundo digital, terão que desenvolver uma narrativa com mais empatia e menos política. E os candidatos ao parlamento (vereadores e deputados) devem dar atenção ao voto segmentado, com propostas de políticas públicas que atendam às “causas” em destaque nas bolhas digitais.