Jardins filtrantes para o tratamento de esgoto
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terça, 23 de agosto de 2022

Todo mundo concorda que um jardim é um aspecto de grande importância na arquitetura de uma residência. Mas você sabia que existem jardins que, além de embelezar, são capazes de tratar de forma muito eficiente o esgoto gerado nas residências? Estamos falando dos jardins filtrantes, também conhecidos como filtros plantados com macrófitas, alagados construídos ou ainda, wetlands construídos.

Esses jardins são sistemas de tratamento de esgoto nos quais se utiliza um meio suporte (como areia ou brita), microrganismos – naturalmente presentes nos esgotos – e plantas das mais variadas espécies. Na figura abaixo está apresentado um esquema de um jardim filtrante.

Fonte: Adaptado de Sezerino e Pelissari (2018).

Os jardins filtrantes devem ser utilizados após os tanques sépticos (fossas), a fim de complementar o tratamento. Portanto, podem ser usados como alternativa em substituição aos filtros anaeróbicos - aqueles tanques contendo brita ou material plástico - que são largamente utilizados na nossa região após as fossas.

Enquanto o esgoto segue seu caminho no interior de um jardim filtrante, passa pelo material filtrante (areia, por exemplo) e entra em contato com as raízes das plantas e diversos microrganismos ali presentes, principalmente bactérias. Esse conjunto de elementos funciona como um filtro, capaz de reter e degradar as impurezas presentes nos esgotos.

Após essa filtração, o esgoto tratado apresenta qualidade compatível para sua disposição no meio ambiente. Essa disposição final pode ser no solo, por meio de um sumidouro ou vala de infiltração, ou ainda, nos cursos d´água, de acordo com as leis ambientais.

Outra possibilidade, bastante interessante, principalmente em locais onde a água é escassa, é viabilizar o reúso do esgoto tratado na própria residência (lavagem de carros, calçadas ou irrigação do jardim, por exemplo). Mas atenção: Para isso se faz necessária mais uma etapa de tratamento, de desinfecção do efluente tratado, que pode ser feita por meio da simples adição de cloro. Essa etapa irá garantir o reúso seguro do esgoto, ou seja, evitar doenças decorrentes do contato com o esgoto.

Mas afinal, como ter em sua casa um jardim filtrante e aproveitar todas essas potencialidades?

Quais as dimensões necessárias e os detalhes construtivos? Como qualquer obra civil, ou mesmo simples reformas que fazemos nas nossas casas, para assegurar a qualidade e bom desempenho, precisamos de um profissional técnico. O profissional mais indicado para realizar o projeto de um jardim filtrante é o Engenheiro Ambiental e Sanitarista.

Os jardins filtrantes apresentam construção e operação muito simples. A operação consiste basicamente em podas periódicas nas plantas, para mantê-las com aspecto saudável, além de assegurar uma boa eficiência de tratamento ao longo do tempo.

Quais plantas podem ser utilizadas no jardim? Podemos utilizar macrófitas, como a Typha spp. (taboa); gramíneas, tais como o Cynodon spp. (capim tifton); ou espécies ornamentais, como o Cyperus papyrus (papiro) e a Canna spp. (caeté ou biri). As plantas, além de auxiliar no tratamento, o tornam agradável esteticamente, principalmente quando se utiliza plantas ornamentais. Abaixo consta uma fotografia do desenvolvimento da planta ornamental Canna spp. em um jardim filtrante localizado em Santa Maria/RS.

Fonte: Autores.

Agora que você já conhece mais essa ecotecnologia, apresentada pelo Departamento de Engenharia e Tecnologia Ambiental da UFSM-FW, que tal ter em sua casa um lindo jardim filtrante e ainda contribuir com o meio ambiente?

Por: Professora-doutora Samara Terezinha Decezaro, com colaboração do professor-doutor Raphael Corrêa Medeiros.

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