O que a jardinagem tem a ver com a política?
**Os artigos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, não traduzindo a opinião do jornal O Alto Uruguai
segunda, 25 de abril de 2022

Vivemos em um mundo onde a política faz parte de tudo, o ano de 2022 é de eleições majoritárias, ano para exercer a cidadania por meio do voto. Para ajudá-lo a refletir sobre o tema, trago Rubem Alves, um dos maiores nomes em educação do Brasil. Autor de livros de filosofia, teologia, psicologia e de histórias infantis, sua crônica intitulada “Política e jardinagem”, é a inspiração para este texto. 
O autor nos chama a atenção para a relação metafórica entre a política e a jardinagem, para ele a política é a vocação mais nobre de todas porque é um “chamado de amor por um fazer”, se você tem vocação para alguma coisa você a faz por amor. Assim, se você é um político por vocação, você é o melhor protagonista que a cidade deseja ter. O político por vocação transforma sonhos em realidade.
A origem da palavra “política” é grega, vem de polis, cidade, “espaço seguro, ordenado e manso”, lugar em que as pessoas podem buscar a felicidade. Pois bem, “o político seria aquele que cuidaria desse espaço A vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos moradores da cidade”. O autor também nos leva a pensar nos hebreus, nômades no deserto e que na mesma época não sonhavam com cidades, mas sonhavam com jardins. "Quem mora no deserto sonha com oásis. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim”. Se perguntássemos a um profeta hebreu "o que é política?", ele nos responderia, "a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas".
Então, o bom político seria aquele que cuida do jardim de todos, da coletividade, ele abre mão de cuidar do seu jardim para dedicar-se aos interesses do seu povo: saúde, educação, segurança, etc. A importância da política é que os políticos têm poder de transformação social através das suas ações. Os políticos por vocação nos dão esperança de recuperar o sentido da felicidade no fazer político e não no lucro que dele deriva.
O problema é que hoje o político por profissão não pensa em futuro, pensa em minutos, no imediato, no seu mandato, aí vem a segunda tese do autor, a profissão política é a mais vil, é aquela que desencanta e causa indiferença ao povo. Na profissão o prazer não se encontra na ação, e sim, no ganho. Nesse sentido, em que a profissão política é desprezível, sugiro a leitura do livro “O Bem Amado'', uma peça teatral do escritor baiano Dias Gomes. Ela retrata o típico político brasileiro que não mede esforços para atingir seus objetivos. A única promessa que Odorico Paraguaçu tinha de cumprir junto ao povo era a da inauguração de um cemitério. A obra foi escrita em 1962, mas o autor conseguiu expor com frieza a realidade política do país até hoje.
Por fim, a política é o instrumento de ação de transformação da sociedade. Precisamos escolher bons representantes, nas eleições de 2022, esse é um primeiro passo importante para que cenários sociais possam ser melhorados. É um trabalho de gerações, que precisa ser iniciado. Difícil, porém, possível até que atinjamos nosso ideal.

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