Intimidade a dois, com licença!
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sexta, 01 de outubro de 2021

Ter intimidade é coisa que leva tempo para ser adquirida e, como em quase tudo nessa vida, tem seu ônus e seu bônus. A falta de intimidade em um início de namoro causa situações constrangedoras e engraçadas, como não saber onde colocar as mãos ou gesticular demasiadamente. Ruborizar, ficar gago, engasgar e ficar sem ter o que falar são coisas costumeiras em gente que começa a se conhecer. Os mais tímidos chegam a imaginar que o barulho do seu mastigar em uma refeição é percebido pelo par, assim como muitas vezes fingem uma dieta a fim de se livrar do sofrimento que é lidar com uma mise en place sofisticada.

A falta de intimidade nos cerceia, nos faz omitir, contar lorotas e vestir um personagem próximo ao idealizado como perfeito, como forma de atrair e agradar nosso objeto de desejo. Em momentos de aconchego, o recato se faz presente por meio de cuidados e receios em cada detalhe, na tentativa de eternizar momentos perfeitos. Nessas horas perguntamos para velhas amizades de viagem se roncamos ao dormir, no medo de fazer tal cena na primeira noite a dois. Trancamos bufos e eructações – aliás, coisa que deveria se manter para todo sempre – e decretamos ao lixo as lingeries surradas. A chegada de alguém traz junto a renovação da mobília, do guarda-roupa e idas mais frequentes a lugares que se ocupam de tratar da estética. É como se uma injeção de ânimo em quem soçobra a vida perdido em rotinas mórbidas. Agir momentaneamente com essa série de cuidados seria uma farsa? Um engodo a quem chega? De certa forma sim, já que muitos desses hábitos perpassam por regras básicas de educação e por conta disso deveriam ser seguidos à mercê de se estar ou não com alguém.

Também, no que tange aos cuidados pessoais, deveríamos fazê-los primeiramente porque nos dá prazer estar arrumada, bonita e cheirosa. Obviamente que a turma dos (as) intrometidos (as) sempre tenta boicotar sentimentos de autoestima com “alfinetadas” como: ”Jura que você vai usar J’Adore para ir trabalhar todos os dias...”; “Para que se maquiar, você está bem assim! ”; “Eu gosto de você do jeito que você é, natural, sem estar montada em roupas e saltos”; “Você está muito bronzeada...se torrou no sol, hem? ” e assim por diante.  São tentativas infrutíferas de sucumbir com a vaidade alheia que são acolhidas por quem se deixa levar e não tem uma personalidade forte. Se a falta de intimidade nos deixa em estado de vigília, o excesso destrói relacionamentos causando desencanto e matando aos poucos o fogo da paixão. Difícil conceber casais que dividem o banheiro em suas necessidades fisiológicas, bem diferente do que desfrutar de um banho a dois.

O descuido com a aparência também facilita paulatinamente o apagar da chama do desejo, que se ressente por falta de cuidados. O lado bom da intimidade é ter a liberdade de se expor nas dores físicas e emocionais pedindo colo ao parceiro; em saber dos defeitos alheios sabendo lidar com eles; de ter passado por crises e sair mais forte delas e com um ainda “Eu te amo”; de saber dos pratos preferidos, das músicas que ele (a) gosta e de não precisar fingir que ama por exemplo, futebol, e se escravizar assistindo por 90 minutos algo que não te interessa; em conhecer a história de vida do outro e começar a fazer parte dela. Tudo isso é maravilhoso quando se tem companheirismo, pois o resto, “com licença, intimidade!”.

Bons Ventos! Namastê.

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