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Reajuste
Litro do leite longa vida ultrapassa os R$ 6 nos supermercados
Fatores como a estiagem, preços dos insumos para alimentação dos animais e baixa produtividade têm influenciado na alta dos preços
Por: Suseli Cristo
Publicado em: quinta, 23 de junho de 2022 às 08:17h
Atualizado em: quinta, 23 de junho de 2022 às 08:21h

Não é de hoje que os preços vêm obrigando os trabalhadores brasileiros a fazerem escolhas na hora das compras nos supermercados. Um dos itens que tem chamado a atenção para a alta no preço é o litro de leite longa vida, que em alguns estabelecimentos já passa dos R$ 6. Só em 2022, o alimento já subiu 24%, seis vezes a inflação do período.
De acordo com o Índices de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o custo da produção foi encarecido por vários fatores externos e internos, como a seca, aumento da demanda externa, alta no preço da energia elétrica e do petróleo, custos dos fertilizantes, guerra na Ucrânia e aumento das commodities. “A guerra entre Rússia e Ucrânia também afetou os custos da produção do leite no Brasil devido à valorização das commodities. Como o Brasil é um país focado na agricultura, as exportações aumentaram, provocando escassez do produto no mercado interno. Ainda, com a seca provocada pelo La Ninã, impactando o preço de grãos, como soja e milho, componente importante da ração dos animais, a gente teve uma inflação das proteínas de modo generalizado. E aliado a isso, tivemos a demanda chinesa aumentando com a pandemia, a desvalorização no câmbio e, como somos um país agro, isso acabou incentivando as exportações, gerando uma tendência de desabastecimento no mercado interno e aceleração dos preços. De modo geral, os custos estão sofrendo choques excessivos”, explica Matheus Peçanha, economista do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
Segundo o assistente técnico regional na área de produção animal da Emater/RS-Ascar, Valdir Sangaletti, além desses fatores, a nossa região tem um custo alto de produção para quem usa bastante ração no trato dos animais. “Devido aos custos, alguns optaram por se desfazer do plantel, alguns reduziram a produção, então tudo vai contribuindo para essa alta no produto final. Ainda, nós temos um problema sério na nossa região, e em nível de Estado, que é a diferença do preço do leite em termos do que recebe mais e do que recebe menos, independentemente da qualidade que ele tem. Como o leite no Brasil é pago pela quantidade e não pela qualidade, existe essa diferenciação, e na nossa abrangência é bem significativa, que em alguns casos chega a R$ 1 de diferença na mesma linha de leite, o produtor que recebe menos e o que recebe mais”, pondera Sangaletti.   
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o consumidor consegue comprar menos da metade da quantidade de leite que comprava há 10 anos utilizando a mesma quantia em dinheiro. Em 2012, por exemplo, com R$ 50, era possível comprar 20 litros de leite longa vida a R$ 2,45, em média. Atualmente, com o mesmo valor, só é possível levar nove litros de leite a R$ 5,31. No ano passado, o litro de leite era vendido, em média, por R$ 4,87.

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Sem previsão de melhora
Em meio a esse cenário de inflação elevada e sem previsão na diminuição no preço de combustíveis, os preços dos alimentos – especialmente os laticínios – devem continuar pesando para o consumidor.  
O economista do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, Matheus Peçanha, afirma que, no curtíssimo prazo, não deve ter uma melhora tão rápida. “Agora, por exemplo, era para estarmos finalizando a maioria das safras, mas elas estão, em sua maioria, prejudicadas. Até começar a próxima safra, na primavera, devemos ter essa pressão. A previsão de normalizar essas chuvas é agora com a chegada do inverno, pois é uma época de precipitação mais baixa. Resta torcer para que esse prognóstico de chuvas esteja correto”, diz.
Conforme o secretário executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), Darlan Palharini, em entrevista à Gaúcha Atualidade, as pressões vêm de todos os lados. Além dos custos de produção, um dos motivos é a entressafra, quando há queda das pastagens para o gado leiteiro. Porém, ele disse que, mesmo passando o período, dificilmente o preço cairá. “Talvez tenhamos estabilidade, mas é difícil haver redução. O contexto fez dobrar e triplicar petróleo e fertilizantes. Para a indústria, pesa também a alta exponencial das embalagens e, agora, o reajuste dos salários na faixa de 12%”, finaliza. 
 

Fonte: Jornal O Alto Uruguai
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