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Tendências no mercado de trabalho
“Precisamos estruturar a gestão de pessoas em torno de talentos e não apenas em papéis ou cargos”
Confira a entrevista com a psicóloga organizacional e do trabalho, Aline Galhardo
Por: Suseli Cristo
Publicado em: quarta, 23 de fevereiro de 2022 às 08:17h
Atualizado em: quarta, 23 de fevereiro de 2022 às 08:27h

O ano de 2020 foi um grande divisor de águas para o mundo inteiro; 2021 foi um tempo de reestruturar, mas o que podemos esperar de 2022? O ano, sem dúvidas, promete algumas mudanças, principalmente, no que diz respeito ao formato de trabalho. Para falar um sobre essas “tendências”, a psicóloga organizacional e do trabalho, Aline Galhardo, que atua no setor de Recursos Humanos da Associação Empresarial ACI/CDL de Frederico Westphalen (AEFW), traz alguns insights importantes sobre o assunto para este novo ano, que, aos poucos, vai voltando à normalidade após a pandemia da Covid-19.

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Quais as tendências em gestão de pessoas para as empresas?
Aline Galhardo – Temos a tecnologia, flexibilidade e foco no desenvolvimento humano como as principais tendências em gestão de pessoas para as empresas em 2022. Considerando o mercado de trabalho, muitas empresas tiveram que rever posturas internas e externas, muitas adaptações foram colocadas em prática e o setor de recursos humanos foi protagonista. Um estudo realizado pela consultoria Gartner aponta as prioridades dos grandes gestores para 2022. A pesquisa entrevistou mais de 500 líderes de gestão de pessoas de diversas partes do mundo. Certamente, de todas os cenários apontados como tendências para o RH, a tecnologia se tornou realidade. Impulsionada pelas mudanças de mercado, ela se tornou a maior aliada do RH, permitindo o gerenciamento de pessoas em tempo real, mesmo no trabalho remoto e, principalmente, a automação de processos.

É importante levar essa inovação para os processos de RH?
Aline Galhardo – Levar a inovação para dentro de todos os processos, sejam eles de recrutamento e seleção ou desenvolvimento de pessoas é fundamental. Ter como base informações corretas e sem subjetividades sobre os colaboradores é uma carta na manga essencial que os RHs possuem para enfrentar os desafios que ainda estão por vir e não só mais uma tendência. Da mesma forma que não é preciso ir muito longe para perceber que os colaboradores já enxergam o trabalho híbrido (parte do trabalho no escritório e a outra restante em casa) como uma necessidade, seja para sua melhor produtividade quanto para a própria saúde mental. Diversas pesquisas no LinkedIn apontam que mais de 90% dos profissionais que já tiveram de fazer essa adaptação à rotina mista preferem e gostam do novo modelo. Segundo a pesquisa do Gartner, 80% das empresas pretendem manter o trabalho remoto ou no formato híbrido. Pensando nisso, algumas das prioridades para a área podem não ser surpresa, mas sim um reforço de necessidades latentes para as organizações.

Na sua visão, como psicóloga organizacional, qual seria a alternativa?
Aline Galhardo – Penso que a alternativa é estruturar a gestão de pessoas em torno de talentos e não apenas em papéis ou cargos, para criar uma cultura de trabalho mais adaptável. Nunca antes foi dada tanta atenção para a saúde emocional dos seres humanos, e no ambiente empresarial não será diferente. Mais do que nunca, é necessário capacitar a liderança para que dê espaço ao trabalho de promoção da saúde mental e incentivar a confiança entre os membros das equipes. O desenvolvimento humano aparece como ponto central para alcançar resultados. Para 2022, algumas metas são ainda mais essenciais, como o foco em pessoas – e não apenas em processos – e uma gestão ágil e transparente. O intuito é incentivar que os colaboradores trabalhem a partir de um objetivo comum, para aumentar o engajamento, a inovação, a agilidade e, consequentemente, o desempenho. Ainda, algumas ferramentas tornam-se indispensáveis nesse processo, como a pesquisa de clima organizacional, o feedback contínuo, a avaliação de desempenho, a construção de políticas de integração e Onboarding dos novos colaboradores, a estruturação de um programa de recrutamento e seleção adequados à cultura organizacional e até mesmo um programa de desligamento de trabalhadores, a fim de proporcionar uma experiência 360° para os clientes internos.

Torna-se necessário preparar a liderança para atender aos diversos desafios que o mercado traz?
Aline Galhardo – Relações de trabalho humanizadas exigem liderança preparada. Sugere-se que através do mapeamento de habilidades e avaliação de competências, criar programas de desenvolvimento de soft skills primordiais à liderança. Outra tendência para o ano de 2022 são os benefícios flexíveis, onde o funcionário tem a oportunidade de personalizar o seu pacote de ofertas de acordo com suas necessidades e estilo de vida. 
Quais os benefícios que ganham destaque no próximo ano?
Aline Galhardo – Temos o auxílio terapia, onde as empresas aumentaram a preocupação com a saúde mental dos colaboradores com a pandemia. Além disso, conforme citado anteriormente, houve aumento no número de casos de ansiedade e depressão, por isso, os próprios trabalhadores estão escolhendo empresas que lhes proporcionem a chance de terapia. E temos os cartões corporativos flex: o funcionário usa o cartão da forma que desejar. Entre as categorias normalmente incluídas estão: refeição, alimentação, educação, farmácia, gás de cozinha, mobilidade, entretenimento. Por fim, considera-se que identificar as tendências mais relevantes para o negócio é crucial, mas é preciso tomar cuidado para não focar somente em estratégias e deixar a cultura da organização de lado. Afinal, a cultura está diretamente ligada à eficácia dos objetivos estratégicos.

Para saber mais... 
Mudanças na lei trabalhista
A pandemia da Covid-19 alterou o sistema de trabalho, por isso, o governo instituiu medidas provisórias com o objetivo de ajudar tanto as empresas como os trabalhadores a conseguirem superar as dificuldades desse período causadas pela doença, mas que acabaram em 2021. Confira as principais mudanças na lei que o RH precisa conhecer para o ano de 2022: 
*Marco regulatório trabalhista infralegal: foi consolidado em novembro de 2021, por meio da publicação do Decreto 10.854/21, abordando normas sobre vários assuntos trabalhistas. Entre esses, é possível destacar o ponto eletrônico e Livro de Inspeção do Trabalho Eletrônico (eLIT);
*Fim das MPS: a partir de agosto de 2021, as Medidas Provisórias 1045 e 1046 chegaram ao fim. Com isso, as empresas precisam se organizar para retornar ao “normal”, isso significa que não existirá mais redução proporcional de salário e jornada, implementação da rotina de trabalho remoto por determinação do empregador, entre outras questões.

Fonte: Jornal O Alto Uruguai
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